O personalismo católico - a ideia de que as pessoas são, essencialmente, todas diferentes umas das outras - por oposição ao individualismo protestante - a ideia de que as pessoas são, essencialmente, todas iguais umas às outras - introduz na economia elementos importantes que tornam as economias dos países católicos radicalmente diferentes, em alguns aspectos essenciais, das economias dos países protestantes.
Num país onde prevalece o individualismo protestante, assente na ideia de igualização, as pessoas fazem questão, e orgulham-se, de os seus gostos serem essencialmente iguais aos de todos os outros. Pelo contrário, num país de cultura católica, assente na ideia de diferenciação, as pessoas fazem questão, e orgulham-se, de os seus gostos serem essencialmente diferentes dos de todos os outros.
No primeiro país, um mercado, mesmo de alguns milhões de consumidores, satisfaz-se com uma empresa, ou um pequeno número delas, produzindo um produto que é essencialmente igual para todos os consumidores. Pelo contrário, no segundo país, o mesmo mercado exige centenas, senão mesmo milhares de empresas, produzindo numerosas variedades do mesmo produto, que às vezes se distinguem apenas por um pequeno detalhe, e que se destinam a satisfazer grupos específicos e diferentes de consumidores dentro desse mercado.
As diferenças de produtividade e de competitividade que daqui resultam são consideráveis. Devido às possibilidades de mecanização da produção e às economias de escala, sai muito mais barato produzir um vinho estandardizado para satisfazer um mercado com uma certa dimensão do que produzir duas mil marcas diferentes de vinho, cada uma diferindo da outra às vezes por um pequeno pormenor, para satisfazer o mesmo mercado. Encontra-se aqui uma das razões principais para explicar a menor produtividade ou competitividade que é atribuida aos países de tradição católica em comparação com os países de tradição protestante. Também se encontra aqui a explicação para o facto de a empresa típica de um país de tradição católica ser uma pequena empresa enquanto que nos países protestantes a empresa típica possui uma dimensão geralmente muito maior.
Numa altura em que a economia portuguesa se encontra falida e em que os portugueses, por força das circunstâncias, vão ter de regressar às suas tradições para sairem da situação em que se encontram, é importante que, em primeiro lugar, os portugueses se conheçam a si próprios. A chamada internacionalização da economia portuguesa, induzida pela globalização, como política económica geral, é um rotundo falhanço. Mesmo no Brasil, um país culturalmente tão próximo, contam-se pelos dedos as empresas portuguesas que tiveram sucesso, incluindo Bancos. Na Europa do Norte e na América do Norte, que são afinal os países com o maior poder de compra, o falhanço é rotundo. E porquê? Porque os portugueses são óptimos a produzir produtos diferenciados para pequenos núcleos de consumidores cujo número às vezes não excede os dedos de uma mão. Pelo contrário, são muito maus a produzir para mercados de massas onde os consumidores pedem produtos estandardizados.
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