08 janeiro 2012

ser estrangeiro

Um país cuja cultura torna cada consumidor extraordinariamente discriminatório, no sentido em que, no limite, ele gostaria que cada produto lhe fosse fornecido numa variedade exclusiva e personalizada, de preferência com o seu nome gravado na embalagem ("Fabricado especialmente e por especial deferência para José Lopes da Silva, nascido a tantos do tal, na freguesia de tal e tal, concelho de tal, filho de... e de...", não fosse ele ser confundido com outro qualquer José da Silva que exista por aí) possui características económicas específicas que não é possível contornar.

A primeira, tratada aqui, é a de que é um país de pequenas empresas, em que o regime concorrencial dominante é aquele a que os economistas chamam concorrência monopolística (muitas pequenas empresas produzindo produtos ligeiramente diferenciados). Uma economia com este tecido empresarial está mal capacitada para a concorrência internacional e a exportação e, sobretudo, para a globalização, porque às pequenas empresas faltam a experiência, os recursos financeiros e a capacidade organizacional para se baterem em grandes mercados que acabam inevitavelmente por serem mercados de massas.

Ao mesmo tempo, a sua cultura católica, com a curiosidade que suscita por toda a novidade e por tudo aquilo que existe no mundo, gerando um gosto quase doentio por tudo aquilo que é estrangeiro, em detrimento do que é nacional, torna estes países extraordinariamente aptos para a importação. Daqui resulta que os países de tradição católica, abandonados às forças espontâneas do mercado e da sua própria cultura são excelentes importadores e péssimos exportadores em comparação, e portanto, países que tendem a incorrer défices crónicos das suas balanças comerciais.

Um país assim precisa de ser governado economicamente, no mais literal sentido da palavra, caso contrário, acaba invariavelmente na bancarrota. E essa governação tem de ser no sentido de a autoridade central - o Estado - ajudar a estimular as exportações e contribuir para conter as importações. Este país não pode participar numa política de laissez-faire nem de globalização incontrolada. Se o fizer, vai à falência.

A contenção das importações significa que o país não pode, pura e simplesmente, escancarar as suas fronteiras à concorrência internacional. Um país de tradição católica, como é Portugal, precisa de uma política proteccionista. E precisa dela por duas razões essenciais. A primeira é que qualquer multinacional entre neste mercado e, mesmo com um produto vulgar (mas estrangeiro), e de mais baixo preço, põe na falência um grande número de pequenos produtores nacionais. A segunda, é que os consumidores nacionais, se deixados livres, e mesmo em produtos em que existe uma extensa oferta nacional a mais baixo preço, preferem o produto estrangeiro (vinho australiano, pescada chilena, queijo francês) precisamente porque ele possui essa caracteristica suprema que eles tanto apreciam - ser estrangeiro.

Sem comentários: