31 janeiro 2012

um propagandista

Mas afinal o que é que esta história da Virgem, de Cristo e da Verdade tem que ver com a nossa vida de todos os dias? Imenso. Tudo. É mesmo decisiva para a nossa vida diária. E é isso que eu pretendo começar a exemplificar agora.
Pondo de lado a figura de Maria, os protestantes puseram de lado a Verdade. Não lhes interessa saber se Maria era virgem ou não. Mas não lhes interessando saber se Maria era virgem ou não, também não lhes interessa saber se Cristo era filho de Deus ou, pelo contrário, filho de um homem qualquer. Não lhes interessa saber se Cristo tinha uma origem divina ou não. Ora, a origem divina de Cristo é precisamente a Verdade essencial sobre a qual assenta toda a nossa civilização. Não interessando aos protestantes esta Verdade - a primeira e a mais importante de todas as verdades -, que outras verdades lhes podem interessar? Nenhumas, ou talvez só mesmo aquelas que lhes convenham.
O desprezo pela verdade, ou o seu aprço somente pelas verdades que lhe são convenientes, é uma característica essencial do protestantismo. Voltando a um post anterior e ao episódio do The Telegraph. Porque é que o jornal não publicou o meu comentário? Porque os protestantes desprezam a verdade, em primeiro lugar aquelas que não lhes convêm. E retomando o caso do académico americano, porque é que ele, que tinha começado a discussão com tanto entusiasmo, não a prosseguiu, puxando por mim, que me apresentei bem preparado, para explicar a alegada relação entre os PIGS e a superioridade da ética protestante face à ética católica? Porque ele não queria saber a verdade. Para ele era muito mais confortável manter-se no preconceito de que a ética protestante, que é a dele, é superior à ética católica, que é a nossa, e assim poder continuar a referir-se livremente a nós de forma depreciativa como PIGS.
Ao separar Cristo da Virgem Maria, os protestantes ficaram com quê? Ficaram apenas com a figura humana de Cristo. E que figura é aquela, quando vista apenas do ponto de vista da sua humanidade? Se me dessem os Evangelhos para ler, e me pedissem para me abstrair do carácter divino de Cristo e me concentrar apenas no seu carácter humano, como é que eu iria avaliar aquele homem? Diria que é um tipo que resolve formar uma seita e vai por ali fora pelas terras da Galileia a proselitar em favor de causas fracturantes ("Eu não vim ao mundo para trazer a paz, mas a espada"), sobre os pobres, as mulheres, os ignorantes, a verdade, a justiça e as grandezas de um reino imaginário. Um propagandista dos maiores, concluiria eu.
Até aqui, mantive a discussão a um nível puramente intelectual. Passo agora à prática, e elejo o nosso sistema de justiça como exemplo. Já utilizou os tribunais portugueses? Se não, pode vir a necessitar deles, embora eu sugira que os evite a todo o custo. Pior ainda, já foi alguma vez acusado indevidamente por um crime que não cometeu? Não está livre de o ser, a PGR até tem um site na internet onde encoraja as denúncias anónimas.
Porque é que o sistema de justiça é, de longe, o pior sector institucional da vida portuguesa, muito pior até do que a economia, a qual, como sabemos, não está nada famosa? Por causa da questão da Verdade, pelo facto de os protestantes não ligarem nada à Verdade, excepto talvez aquelas "verdades" que lhes são convenientes.
Aquilo que os nossos jovens juristas - aqueles que depois vêm a ser advogados, juizes, etc. - aprendem nas Faculdades de Direito é uma doutrina que os seus professores, por sua vez, foram aprender na Alemanha, conhecida pelo nome de positivismo jurídico. O pai desta doutrina - a doutrina que hoje preside à elaboração e interpretação das nossa leis, e à organização do sistema judiciário -, é um académico austríaco, e judeu, chamado Hans Kelsen. Entre outras coisas, Kelsen ficou famoso por dizer que Cristo veio ao mundo, não para dizer a Verdade, mas para fazer Justiça, e foi sob este lema que ele desenvolveu a sua teoria jurídica. Espero que esta frase já não o surpreenda a si. Aquilo que Kelsen diz é que isso da Verdade não interessa para nada, o que interessa é fazer Justiça.
Por isso, hoje em dia nos tribunais portugueses, por lei, pode-se mentir. Podem mentir os réus, podem mentir os advogados, por lei só as testemunhas é que não podem mentir, embora num ambiente generalizado de mentira, eu duvido que alguém se importe que elas mintam também.
Num julgamento que vise verdadeiramente fazer justiça procura-se julgar uma pesssoa, ou pessoas, que cometeram certos actos bem definidos, em tempo e circunstâncias bem precisas e determinadas - a chamada verdade da situação.
Porém, como a verdade não interessa para nada, e se pode mentir nos tribunais, em cada julgamento que hoje ocorre em Portugal, a verdade da situação é substituída por uma encenação que resulta de todas as mentiras que são proferidas por réus, testemunhas, advogados, agentes do ministério público, e que transforma tudo num verdadeiro teatro, no sentido mais fantasista da palavra. É sobre este cenário de fantasia que os juizes pronunciam o seu julgamento.
Peça a Deus nunca ser acusado de um crime que não cometeu. Pode ficar com a sua vida arruinada. Pelo contrário, se cometeu algum crime, este é o sistema judicial ideal para você se safar.

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