A produtividade do trabalho em Portugal é metade da produtividade na Alemanha. Serão os portugueses mandriões?
Muitas vozes oficiais no estrangeiro, e algumas em Portugal também, já responderam a esta questão afirmativamente, e o mesmo têm feito em relação aos outros PIGS, chamando-lhes PIGS, Club Med e países da Dolce Vita.
Será verdadeira esta resposta? Não, não é, porque é baseada numa abstracção ("os portugueses") e numa generalização abusiva. "Os portugueses" só existem como ideia, não há nenhuma pessoa que seja "os portugueses", e as ideias, não sendo pessoas, não podem ter atributos que só as pessoas podem ter, como o de serem ou não mandrionas. Não há ideias mandrionas.
A menos que individualizemos os portugueses acerca dos quais estamos a falar, não é possível responder à questão de forma verdadeira. Só quando procedemos à individualização e identificamos, o Zé, o Manel, o Chico, etc. é que estamos no caminho da verdade.
E então, são ou não os portugueses mandriões? Olhe, o Zé é um mandrião irreformável, o Chico passa o dia e a noite a trabalhar, o Manel é assim-assim. Há de tudo entre os portugueses, desde um extremo ao outro do espectro, passando por todos os graus intermédios. Esta é que é a resposta verdadeira.
E aqui chegamos à dificuldade principal, que é a seguinte. Não é possível pensar um país de cultura católica, onde todos são diferentes, com uma mentalidade que é protestante. Mas é isso que fazem os protestantes (alemães, suecos, finlandeses, holandeses, etc.) e também alguns políticos e intelectuais portugueses que têm a mania que são protestantes - a figura do intelectual catante a que me referi noutras ocasiões. E isto é assim porque nas univeridades portugueses só se ensina protestantismo, embora laico, na Economia, no Direito, na Sociologia, até na História.
Como se já não bastassem os próprios protestantes, estes políticos e intelectuais acabam invariavelmente a produzir um julgamento que - embora indevido - é pejorativo para Portugal e os portugueses. E mostram, afinal, que não entendem nada acerca da própria cultura em que nasceram. Como o Ramalho Ortigão, citado no post anterior.
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