28 janeiro 2012

conciliadores

Uma questão que me tenho posto recentemente de forma recorrente é a seguinte: como serão os homens e mulheres que vão reconstruir Portugal, a partir do Estado em que se encontra? Interessa-me sobretudo visualizar esses homens e mulheres no conteúdo das suas ideias. Como serão eles? Julgo que já identifiquei alguns traços. Tratarei aqui de um deles.
Serão conciliadores. Em primeiro lugar, eles vão ter de unir os portugueses, depois de quase quarenta anos de reino de ideias e instituições protestantes que só contribuiram para os dividir, na família, no trabalho, na política.
O protestantismo, com o seu modo dialéctico de pensar, utiliza a crítica para descobrir a diferença na igualdade. Kant utilizou a palavra de modo substantivo no título de duas das suas principais obras. A crítica é a principal arma intelectual do protestantismo. Importada na cultura católica, com a propensão que esta cultura tem para o exagero, crítica é sinónimo de dizer mal. E dizer mal de quê? De tudo e de todos. E é isso o que os portugueses neste momento fazem melhor, nos jornais, nas televisões, nos blogues e, presumo eu, nas suas próprias casas.
O protestantismo foi desde o início um ataque violento à ideia de comunidade (ekklesia, igreja). A crítica violenta à Igreja Católica por parte do luteranismo, separou o mundo cristão em dois mundos adversos e, mais tarde, inimigos. De um lado, os cristãos corrompidos - os católicos -, de outro os cristãos puros - os luteranos, o maniqueísmo moderno na sua expressão mais perfeita.
É claro que em breve o luteranismo estava a provar da sua própria medicina e ele próprio a ser alvo de críticas, levando ao seu fraccionamento em dezenas de seitas que se odiavam mutuamente. Depois de todos se terem criticado uns aos outros, o que é que resultou daqui? A Guerra dos Trinta Anos, para além de outras guerras religiosas menores, com os seus milhões de mortos. A crítica não deixou nada de pé. Depois foram duas guerras mundiais, sempre na pátria do protestantismo. Onde é que havia de ser?
É esta forma de pensar, que nós consideramos moderna, importada em primeiro lugar da Alemanha, onde ela nasceu, e só secundariamente da Inglaterra ou dos EUA, que temos vindo a praticar nos últimos trinta e tal anos, e que nos conduziu a este estado. É uma forma de pensar que divide, que separa, que cria inimigos e ódios onde eles antes não existiam, na família, no grupo de amigos, no trabalho, na política.
Os homens que vão restaurar Portugal vão ser católicos, não necessariamente do ponto de vista religioso, mas do ponto de vista cultural, na maneira como pensam. E isso significa serem conciliadores, meterem outra vez todos os portugueses debaixo do mesmo tecto, agregando as diferenças, ao mesmo tempo que esvaziam as instituições e fazem tábula rasa das ideias que só servem para os dividir.

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