17 janeiro 2012

ainda lhe acontece

Eu não estou certo de conhecer todas as razões por que os povos de cultura católica desvalorizam tudo aquilo que é seu e, em particular, a doutrina que sustenta a sua própria cultura. Mas uma delas é seguramente a extraordinária ignorância que os povos de cultura católica têm acerca do que é o catolicismo.

Quando se fala em catolicismo, mesmo a maior parte das pessoas educadas associam-no imediatamente à religião, e só à religião. Mas o catolicismo é muito mais do que isso, é uma cultura, uma filosofia de vida. Todas as culturas têm por base uma religião, e assim acontece também com a cultura católica. Mas a cultura extravasa a religião, traduzindo-se nas ideias que as pessoas possuem acerca da vida, e das finalidades da vida, na forma de se relacionarem umas com as outras, nas instituições propícias à sua vida colectiva, na maneira de arranjarem a sua economia, a sua justiça, o seu Estado, etc.

É neste campo, no campo do catolicismo laico, digamos assim, que existe um enorme trabalho de investigação e divulgação a fazer por parte dos chamados cientistas sociais, politólogos, economistas, juristas, sociólogos, e que em princípio competiria às Universidades fazer. Qual é a organização económica que emana da cultura católica, a organização da justiça, a configuração do Estado, quais as instituições de ajuda aos pobres conformes a esta cultura? Porém, em todos estes campos, aquilo que se ensina presentemente nas Universidades portuguesas é importado do estrangeiro e do protestantismo.

Por onde estudar estas matérias? Não, não precisa de ler as Escrituras, nem sequer o Novo Testamento. Senão, ainda lhe acontece como ao José Rodrigues do Santos e fica convencido que, entre a apresentação de dois Telejornais, descobriu um nova interpretação de uma passagem das Escrituras - diferente, para melhor, daquela a que chegaram milhares de homens de primeira categoria intelectual, ao longo de mais de dois mil anos, dedicando-se exclusivamente ao estudo das Escrituras.

A cultura católica tem a vantagem, talvez única no mundo, de estar codificada. O livro-base é o Catecismo. As leituras complementares são as Encíclicas que desde 1890 têm sido dedicadas a matérias sociais e que, no conjunto, representam a chamada Doutrina Social da Igreja. Um pouco de teologia também não faz mal. O principal autor moderno nesta matéria é, naturalmente, o Papa.

Ah, e não esqueça: pense pela sua cabeça. A melhor maneira de um homem ser capaz de pensar pela sua própria cabeça é isolar-se. E meditar. Não leia em demasia. Quem lê em demasia acaba invariavelmente a pensar pela cabeça dos outros.

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