17 janeiro 2012

ideias

Se Portugal conseguisse exportar mais resolveria todos os problemas económicos e financeiros que, lenta mas seguramente, nesta via sem esperança que está a ser seguida, acabarão por o sufocar. Existem, porém, duas dificuldades de monta. A primeira é o euro, que torna todos os produtos nacionais exorbitantemente caros no estrangeiro. A segunda é mais importante, é cultural, aquela tendência dos portugueses para desvalorizarem tudo aquilo que é seu, pessoas, coisas e ideias. Nas condições presentes, o ónus económico desta característica da sua cultura católica é extraordinário.

Se os portugueses são os primeiros a falar mal das suas coisas, como é que podem esperar que os estrangeiros as comprem? Num post anterior referi dois produtos portugueses que são praticamente universais, o vinho do Porto e o vinho Mateus Rosé. Disse então que o vinho do Porto não foi, nem poderia ter sido, promovido no mundo pelos portugueses. Foi pelos ingleses. E quanto ao vinho Mateus Rosé referi que, quando fosse feita a sua história, de certeza que se haveria de descobrir que a sua promoção no mundo não foi feita por portugueses, mas por estrangeiros. A história, afinal, está feita. O vinho Mateus Rosé tem 66 anos de idade, vende-se em 125 países e foi promovido pela família van Zeller, da Sogrape, um apelido que não é propriamente português de gema.

O vinho do Porto e o vinho Mateus Rosé ilustram, de resto, à perfeição, essa tendência cultural dos portugueses para desvalorizarem tudo aquilo que é seu. Quantos portugueses apreciam o vinho Mateus Rosé ou mesmo o vinho do Porto? Entre-se num restaurante português e observe-se o número de portugueses que estão a beber Mateus Rosé ou Porto. Na realidade, o Mateus Rosé, talvez mais do que o Porto, são vinhos que os portugueses desprezam. Em relação ao primeiro existe mesmo quem considere que "aquilo não é vinho".

Compreende-se perfeitamente que um povo de cultura católica admire e valorize tudo aquilo que é estrangeiro. Muito mais difícil de compreender é a tendência para esse povo desvalorizar tudo aquilo que é nacional e, portanto, seu. Eu ainda não descobri se esta característica é inerente à cultura católica, ou meramente conjuntural. Tendo a pensar que é inerente à cultura católica e, sendo esta uma cultura racional, deve existir uma razão. Mas eu ainda não a descobri. E se as coisas são assim com o vinho são muito piores com as ideias que sustentam essa cultura.

As coisas podem, no entanto, estar a mudar. O Papa Bento XVI sabe perfeitamente que a Igreja comunica mal a sua mensagem e tem dado uma imensa importância à área da comunicação. Ainda há dias, um bispo português foi nomeado para uma comissão pontifícia para a comunicação da Igreja. O Papa sabe que não basta possuir a verdade, é também preciso fazê-la chegar às pessoas. Mas até para isso, para promover o catolicismo, foi necessário a Igreja Católica ir buscar um Papa a um país protestante, na realidade à pátria do protestantismo, que é uma cultura extraordinária a promover aquilo que é seu, e , em primeiro lugar, as suas ideias. A tal ponto que até consegue promover ideias falsas.

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