Eu escrevo regularmente para um jornal católico. Há meses, um leitor escreveu uma carta ao director a queixar-se de mim. A carta estava bem articulada. O leitor começava por afirmar que era um assinante de longa data do jornal, o mesmo sucedendo com quatro ou cinco dos seus familiares. Mas que, tendo começado por apreciar as minhas contribuições, ultimamente estavam muito desencantados com elas. E a razão era que eu afirmava recorrentemente que os países de tradição católica, como Portugal, não tinham tradição democrática. O leitor sugeria mesmo que o director mostrasse os meus artigos a um sacerdote, para se saber se aquilo que eu dizia era verdade.
O director do jornal pediu-me então que escrevesse um próximo artigo a explicar o meu pensamento. Escrevi o seguinte:
Um verdadeiro democrata
Por: Pedro Arroja
Na sua obra filosófica e teológica, o teólogo Joseph Ratzinger, actual Papa Bento XVI, tem utilizado frequentemente o episódio de Pilatos para ilustrar o principal vício da Democracia moderna. Pilatos estava convencido da inocência de Cristo. Porém, comportou-se como um verdadeiro democrata quando entregou a decisão sobre a vida de Cristo à multidão para que esta decidisse democraticamente o destino a dar-lhe.
O ponto que o teólogo Ratzinger pretende salientar é que a democracia não é nem um critério de verdade nem um critério de justiça. É apenas uma maneira de tomar decisões, e que essas decisões não são necessariamente boas somente porque são democráticas. Não. Essas decisões são boas se, e somente se, se conformarem com a Lei de Deus. Tomada como um bem absoluto, a Democracia conduz ao relativismo moral e cultural, na opinião do Papa um dos maiores males das sociedades democráticas modernas. Assim, por exemplo, não é por uma sociedade decidir democraticamente legalizar o aborto que o aborto se torna um acto moral.
Serão o Papa Bento XVI, e a Igreja Católica em geral, adversários da Democracia? Não, claro que não. O próprio Papa é eleito democraticamente. Aquilo que o Papa e a Igreja são contra é uma Democracia que não conhece limites, uma Democracia ilimitada, uma Democracia tornada critério da Verdade e da Justiça, e uma democracia de massa que é desumanizante. Naquela que é talvez a primeira Encíclica onde a Igreja reconhece plenamente as virtualidades positivas da Democracia, o Papa Pio XII escreveu: “Pelo que fica dito, aparece clara outra conclusão: a massa – como nós acabámos de defini-la – é a inimiga capital da verdadeira democracia e do seu ideal de liberdade e igualdade” (Encíclica Benignitas et Humanitas, 1944).
Desde há muitos séculos que a Igreja pratica a Democracia na eleição do Papa, muito antes do advento da Democracia moderna, de massas ou de sufrágio universal. Mas a Democracia que a Igreja pratica é uma democracia limitada. É uma Democracia entre pares - a elite da Igreja -, em que cerca de 120 cardeais são chamados a eleger o Papa, e não uma democracia de massas em que um eleitor de 18 anos é posto no mesmo plano de um outro de 60 anos, que tem idade e experiência de vida para ser seu pai ou mesmo avô. A Igreja não chama a eleger o Papa nem sequer a generalidade dos bispos, menos ainda os presbíteros, para não falar nos fiéis.
E uma vez eleito o Papa, o exercício democrático termina, passando a Igreja a ser governada pela autoridade suprema e absoluta do Papa, que não tem de prestar contas a ninguém, nem sequer a quem o elegeu, mas apenas a Deus. Parece ter sido essa, na realidade, a vontade de Deus, que a Igreja seja governada por um Homem, e não pelo povo ou pelos representantes do povo, como é próprio da Democracia moderna.
A palavra Igreja (do grego Ekklesia) significa comunidade. Cristo poderia ter entregue o governo da sua Comunidade (Igreja), ao povo, para que este a governasse democraticamente. Mas não o fez. Entregou o governo da sua Comunidade (Igreja) a uma elite de doze homens, designados por Ele, e até começou por designar o primeiro dentre eles: “Tu és Pedro…”.
O director do jornal pediu-me então que escrevesse um próximo artigo a explicar o meu pensamento. Escrevi o seguinte:
Um verdadeiro democrata
Por: Pedro Arroja
Na sua obra filosófica e teológica, o teólogo Joseph Ratzinger, actual Papa Bento XVI, tem utilizado frequentemente o episódio de Pilatos para ilustrar o principal vício da Democracia moderna. Pilatos estava convencido da inocência de Cristo. Porém, comportou-se como um verdadeiro democrata quando entregou a decisão sobre a vida de Cristo à multidão para que esta decidisse democraticamente o destino a dar-lhe.
O ponto que o teólogo Ratzinger pretende salientar é que a democracia não é nem um critério de verdade nem um critério de justiça. É apenas uma maneira de tomar decisões, e que essas decisões não são necessariamente boas somente porque são democráticas. Não. Essas decisões são boas se, e somente se, se conformarem com a Lei de Deus. Tomada como um bem absoluto, a Democracia conduz ao relativismo moral e cultural, na opinião do Papa um dos maiores males das sociedades democráticas modernas. Assim, por exemplo, não é por uma sociedade decidir democraticamente legalizar o aborto que o aborto se torna um acto moral.
Serão o Papa Bento XVI, e a Igreja Católica em geral, adversários da Democracia? Não, claro que não. O próprio Papa é eleito democraticamente. Aquilo que o Papa e a Igreja são contra é uma Democracia que não conhece limites, uma Democracia ilimitada, uma Democracia tornada critério da Verdade e da Justiça, e uma democracia de massa que é desumanizante. Naquela que é talvez a primeira Encíclica onde a Igreja reconhece plenamente as virtualidades positivas da Democracia, o Papa Pio XII escreveu: “Pelo que fica dito, aparece clara outra conclusão: a massa – como nós acabámos de defini-la – é a inimiga capital da verdadeira democracia e do seu ideal de liberdade e igualdade” (Encíclica Benignitas et Humanitas, 1944).
Desde há muitos séculos que a Igreja pratica a Democracia na eleição do Papa, muito antes do advento da Democracia moderna, de massas ou de sufrágio universal. Mas a Democracia que a Igreja pratica é uma democracia limitada. É uma Democracia entre pares - a elite da Igreja -, em que cerca de 120 cardeais são chamados a eleger o Papa, e não uma democracia de massas em que um eleitor de 18 anos é posto no mesmo plano de um outro de 60 anos, que tem idade e experiência de vida para ser seu pai ou mesmo avô. A Igreja não chama a eleger o Papa nem sequer a generalidade dos bispos, menos ainda os presbíteros, para não falar nos fiéis.
E uma vez eleito o Papa, o exercício democrático termina, passando a Igreja a ser governada pela autoridade suprema e absoluta do Papa, que não tem de prestar contas a ninguém, nem sequer a quem o elegeu, mas apenas a Deus. Parece ter sido essa, na realidade, a vontade de Deus, que a Igreja seja governada por um Homem, e não pelo povo ou pelos representantes do povo, como é próprio da Democracia moderna.
A palavra Igreja (do grego Ekklesia) significa comunidade. Cristo poderia ter entregue o governo da sua Comunidade (Igreja), ao povo, para que este a governasse democraticamente. Mas não o fez. Entregou o governo da sua Comunidade (Igreja) a uma elite de doze homens, designados por Ele, e até começou por designar o primeiro dentre eles: “Tu és Pedro…”.
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