31 dezembro 2011

explique lá

Eu só me dei conta muito tarde na minha vida que acreditava na democracia (refiro-me à democracia moderna ou de sufrágio universal) sem saber porquê. Era uma espécie de fé kantiana ou protestante, em que se acredita sem saber porquê e sem nunca pôr questões. Na realidade, tal como a fé kantiana (protestante) em Deus, a minha fé na democracia estava para além da razão humana, era uma fé em que até ficava mal pôr questões. Estava fora do domínio da razão. Acredita-se, pronto!

Tenho de admitir que não gostei do que senti quando me dei conta disto. A minha vida de professor tinha-me sempre levado a procurar estar preparado para as perguntas que me pudessem surgir na sala de aula, numa conferência ou num seminário, ou até informalmente por parte de um amigo. E embora eu não fosse professor de ciência política, eu imaginava agora um estudante, um dia, a levantar o dedo, lá atrás, na sala de aula, e a perguntar: "Oh professor, explique lá por que é que a gente tem de viver em democracia, e não sob outro regime político qualquer, por que é que se diz que a democracia é o melhor, ou o menos mau, de todos os regimes políticos?"

Como é que eu iria responder?



Sem comentários: