04 novembro 2011

um contributo para o debate

"A Europa lá conseguiu que os privados aceitassem perdas de 50% da dívida grega, o que a Grécia quer agora referendar. Está tudo doido. Mas este é um bom pretexto para reflectir sobre a dívida portuguesa, onde a palavra "reestruturação" é hoje tabu. Num esforço de simplificação, vou assumir o seguinte para o final de 2012: a dívida pública é igual ao PIB; o saldo primário é nulo; e a taxa de juro implícita é 5% ao ano. Como sair daqui? (...) Tenho uma ideia. Peguemos na nossa dívida, de €170 mil milhões, e dividamo-la em duas partes: uma de 40% e outra de 60%. Os 40% ficarão congelados num veículo qualquer durante 20 anos. Os 60% serão geridos pelo nosso ministro das Finanças, com a incumbência de jamais os ultrapassar. Os credores daqueles 40% não assumirão contabilisticamente quaisquer perdas, mas também não receberão quaisquer juros. E, depois, em 2032, logo se vê.", Daniel Amaral, hoje no Diário Económico (página 2).

Ora, aqui está um contributo positivo para o debate que, antes mais cedo que mais tarde, se terá de abrir em Portugal acerca da reestruturação da nossa dívida pública. O Daniel Amaral aponta um caminho que me parece muito interessante (nota: creio, contudo, que onde se lê "não receberão quaisquer juros" deveria ler-se "não receberão quaisquer amortizações de capital") e fá-lo de uma forma quantificada, factual e fácil de entender. Um estilo que eu muito aprecio no Daniel. Na realidade, é a partir de contributos como este que a qualidade do debate em Portugal e, em última instância, da Democracia também, pode melhorar; pelo contrário, se o debate continuar dependente de clichés e de políticos que, na sua generalidade, falam de cor, só poderemos esperar o pior.

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