É neste equilíbrio (referido aqui) entre o sentimento de estar a prosseguir o seu interesse privado, mas ao mesmo tempo também o interesse da comunidade que o trabalhador ou o empresário português está no seu melhor e é mais eficaz. Ele está então como peixe na água, perfeitamente dentro da sua cultura.
Quando este equilíbrio é destruido, o português perde eficácia. Assim, quando o interesse comunitário esmaga o interesse privado - o exagero protestante do socialismo germânico -, o português deixa de trabalhar porque sente que está só a trabalhar para os outros. Quando, pelo contrário, o interesse privado esmaga o interesse comunitário - o exagero protestante do liberalismo britânico - o português fica desorientado e volta-se contra os outros (os concorrentes passam a ser inimigos que é preciso abater, normalmente usando as armas da suspeita e da calúnia). Por isso, nem o socialismo nem o liberalismo serão alguma vez fontes de prosperidade económica no país, como a experiência tem repetidamente mostrado e está mais uma vez a mostrar.
A solução do equilíbrio entre a prossecução do interesse privado e a prossecução do interesse comunitário, que é a solução católica, é uma solução de fio da navalha, uma solução subtil, delicada (e, por isso, feminina, como a tradição católica), e não está à vista de todos. Na realidade, nesta tradição, nenhuma coisa importante está à vista de todos. A razão é que, se estivesse à vista de todos - do povo -, o povo imediatamente a destruía.
A mim parece-me claramente evidente que Portugal não vai sair da encruzilhada em que se meteu, sem voltar à sua tradição. E esta é uma tradição em que nem o Estado assume um papel absorvente na sociedade (Socialismo), nem se demite de todo de qualquer intervenção social (Liberalismo). Pelo contrário, é um Estado que está entre estes dois extremos, é um Estado subsidiário, em que uma das suas funções principais é orientar e encorajar a actividade económica, sobretudo naqueles sectores de maior relevância social.
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