Num país de tradição católica, uma das principais funções do Estado na Economia é uma função que praticamente não custa dinheiro, uma função que se desempenha sobretudo através de palavras. É a função de orientador da actividade económica. Esta função não implica o desempenho pelo Estado de actividades económicas, como no Socialismo, nem a sua demissão da interferência na Economia, como no Liberalismo. É uma função mais subtil, entre estas duas e que passo a caracterizar.
Num país desta tradição, a que Portugal pertence, as pessoas sentem-se mais confortáveis no desempenho de uma actividade económica quando sentem que têm por detrás de si o apoio da autoridade política. O seu negócio ganha então uma dimensão especial. Elas sentem que não estão a trabalhar apenas em benefício privado, mas também para o benefício da comunidade. É esta a razão porque, em Portugal, os empresários (e a população em geral) estão sempre a olhar para o Estado antes de se envolverem em qualquer actividade económica de dmensão significativa, e, em geral, não avançam, sem terem pelo menos uma palavra de conforto por parte do Estado.
Assim, por exemplo, o Estado considera que é urgente gerar receitas externas e que uma das indústrias importantes para o fazer é o Turismo. Esta mera orientação e mais um ou outro pequeno incentivo (v.g., taxas de IVA ou IRC mais favoráveis para as actividades turísticas) são, em geral suficentes, para levar uma quantidade significativa de portugueses para as actividades do turismo. Uma série de conferências sobre o tema - as chamadas "conferências do bacalhau" - com a presença de governantes ajuda a galvanizar os empresários, actuais e potenciais, para se envolverem no sector.
Nesta tradição, o Estado não deve cometer o erro de se envolver ele próprio, directamente, em empreendimentos turísticos, pisando o risco daquilo que seria próprio da tradição socialista. Porque, nesse caso, o resultado vai ser o de aparecerem numerosos empresários privados a quererem fazer lucros à custa dos investimentos do Estado.
A função própria do Estado é de mera orientação: "Este é o caminho ...", podendo ocasionalmente retirar alguns escolhos do caminho a fim de o tornar mais fácil de percorrer. Mas, tendo feito isto, deve-se retirar para o Céu deixando que sejam os privados a percorrer esse caminho. E só deve descer à Terra para corrigir desvios do caminho ou para arbitrar conflitos que ocorram durante o trajecto.
Os portugueses estão no seu melhor quando sentem que estão a fazer qualquer coisa em prol da comunidade. Sentem-se importantes, sentem que estão a dar uma contribuição ao país. Mas, para isso, nunca dispensam o conforto do Estado. E o conforto não custa dinheiro. Dá-se por palavras. E apertos de mão. Portugal é uma cultura feminina que gosta muito de palavras e onde as palavras têm muito valor.
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