14 maio 2011

concorrência

A sociedade liberal de inspiração protestante e anglo-saxónica, como a Inglaterra ou os EUA, assenta criticamente, no seu dinamismo económico, no processo da concorrência. Na sua versão estereotipada dos economistas, a concorrência assenta em quatro pressupostos principais: um número grande de produtores independentes; todos os produtores produzindo o mesmo bem (concorrência perfeita) ou sucedâneos próximos (concorrência monopolística); informação razoavelmente perfeita e disponível a custo zero; liberdade de entrada e saída na indústria.

Este modelo de concorrência é, porém, um modelo de concorrência para homens, e por isso perfeitamente adaptável às sociedades masculinas dos países protestantes. É assim que os homens concorrem. Mas não é assim que as mulheres concorrem umas com as outras, e por isso este modelo de concorrência nunca produz os mesmos resultados quando praticado numa sociedade de características femininas, como é Portugal.

Na realidade, no modelo concorrencial anglo-saxónico imaginam-se muitos produtores, cada um exclusivamente preocupado com o seu negócio, e muito pouco ou nada com o dos concorrentes. A informação de que ele necessita para gerir o seu negócio chega-lhe sempre por via indirecta, através dos consumidores, e não por observação directa daquilo que se passa no negócio do seu concorrente. O mercado funciona como um processo impessoal de informação. É porque os consumidores lhe dizem que pelo seu produto existe quem no mercado ofereça mais barato ou, pelo mesmo preço, um produto de melhor qualidade, que cada produtor é despertado para uma nova tecnologia de produção, um novo método de gestão dos recursos, ou qualquer outra inovação que lhe permite a ele, e a todos, tornar-se mais eficiente. Neste sistema de concorrência, triunfa o mérito, os produtores que conseguem obter lucros supra-normais são os inovadores, ao passo que os outros limitam-se a trabalhar para sobreviver, recebendo apenas o chamado lucro normal, o mínimo necessário para os manter no negócio.

As mulheres não concorrem assim. As mulheres não obtêm a informação concorrencial necessária à condução do negócio por via indirecta e abstracta. Obtêm-na por via directa, mirando-se umas às outras, e as reputações controem-se destroem-se pelas palavras, pelo elogio e pela má-língua. A concorrência num país de características femininas exerce-se com cada um dos concorrentes a procurar saber, em primeiro lugar, aquilo que se passa no negócio dos outros e, em segundo, a lançar suspeições sobre o negócio do vizinho. Ao contrário daquilo que se passa entre homens, em que a concorrência é um processo construtivo e onde triunfa o mérito, entre mulheres é um processo destrutivo e onde triunfa o elogio e a má-língua, sob a forma da suspeição e da calúnia. Uma mulher não aceita ser preterida, não aceita que outra pareça melhor do que ela.

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