28 abril 2011

suspeito

O que é viver a estudar, como o MEC diz que se vive numa universidade anglo-saxónica?

É adormecer a sonhar com a ideia ou tese que se vai defender amanhã, perante colegas ou estudantes. É acordar às quatro da manhã, atravessar o campus, e ir para a biblioteca ler aquele livro que se devia ter trazido para casa. É dar uma aula sobre um assunto que não está em nenhuma sebenta nem em nenhum livro. É viver em comunidade uma ideia ou a discordância acerca dela. É haver um ouvido benevolente para a nossa mais recente ideia, alguém que a encoraja, a corrige e a acrescenta. É acordar ao Sábado ou ao Domingo de manhã e ... ir para a Universidade tomar café e ler o New York Times do dia, ou o The Economist ou a Time da semana. É passear pelo meio dos livros na biblioteca e trazer para casa o livro de um autor que não se conhecia e sobre um assunto que não se imaginava. É viver uma vida do espírito em comunidade e onde as coisas materiais perdem largamente o significado e importância.

As universidade portuguesas são masmorras de ignorância, diz o MEC. São mais do que isso, são máquinas embrutecedoras do espírito, acrescento eu. São fábricas de dar aulas, sempre dadas da mesma maneira pelas mesmas pessoas, sobre os mesmos assuntos e com as mesmas respostas.

E, no entanto, ao contrário do que diz o MEC, nem sempre foram assim. As universidades são criações da Igreja, comunidades espirituais de homens à procura da Verdade universal. Transformaram-se, em Portugal, por alturas do Marquês de Pombal. Tornaram-se agências de empregos. E só uma geração embrutecida pela universidade portuguesa actual, como é a geração deolinda, pode queixar-se de ter frequentado a universidade, obtido uma licenciatura, e não conseguir arranjar emprego.

Foram as universidade protestantes, as do mundo anglo-saxónico, aquelas que melhor guardaram a tradição católica da universidade - a de uma comunidade espiritual total e livremente entregue à procura da Verdade. Será possível viver esta vida em Portugal? Certamente que não na universidade. Mas Portugal é um país católico, tem tudo aquilo que existe no mundo, frequentemente está é escondido, é preciso procurar porque, quase de certeza, se vai encontrar. Eu suspeito que é nos conventos, em certos conventos, que em Portugal se pode viver este ideal.

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