26 abril 2011

Universidade

O Miguel Esteves Cardoso é, hoje em dia, um dos raros colunistas da Imprensa portuguesa que vale a pena ler. É o único que trata de coisas sérias e de forma séria. É o único que olha para Portugal de maneira original, o que, numa cultura essencialmente fantasista como a portuguesa, significa uma maneira realista.

Os outros falam todos da mesma coisa e dos mesmos personagens - Sócrates, Passos Coelho Teixeira dos Santos. Parecem mulheres, as quais, quando se juntam, acabam sempre a falar do mesmo assunto - homens. É curioso como é que nesta cultura, cuja característica principal é o personalismo, um cultura onde cada pessoa se julga diferente de todas as outras, todas as pessoas acabam a parecer iguais umas às outras, todas a falar da mesma coisa e da mesma maneira.

O MEC traz hoje um pequeníssimo artigo no Público a explicar a diferença entre a Universidade e a vida universitária em Inglaterra e a Universidade e a vida universitária em Portugal. Em Inglaterra, na Universidade, vive-se a estudar; em Portugal, na Universidade, estuda-se a viver. Reproduzo a seguir o artigo, que eu não me importava nada de ter escrito, porque ele reproduz a minha própria experiência de vida na universidade portuguesa, depois de me ter doutorado e exercido a profissão académica durante oito anos num país de cultura inglesa. Sob o título "A academia podre", o MEC escreve:

"Quando eu era estudante na Inglaterra, antes e depois de me licenciar e doutorar, durante mais de uma década, feliz ou infeliz, graças aos estudos que eram (agora reconheço e agradeço) licenças pagas para as leituras estudiosas que me apetecessem, vivi num mundo sem cálculos de eficiência, recompensas monetárias ou expectativas de emprego.

As universidades em Portugal, onde depois fui professor cheio de esperanças e incertezas, revelaram-se ser masmorras ignorantes, cheias de preconceitos e privilégios medievais, sem a mais pequena pretensão académica.

Nem os estudantes estudavam - mantinham uma vida social intocável -, nem os professores professavam. Dizer que era um sistema corrupto implica que tinha sido, nalgum passado, por muito distante, mais puro. Não tinha. Tinha melhorado. Mas muito pouco - e só graças ao tique-toque inevitável do progresso. Em Portugal, a podridão intelectual, que consiste na valorização da superioridade hierárquica e etária, não mudou nem mudará tão depressa.

O mal está no vício de ver e entender a carreira académica como um prenúncio ou o sinal de outra coisa qualquer, quando não é mais do que uma carreira académica, uma maneira de continuar a estudar.

É muito diferente a perspectiva portuguesa - de viver enquanto se estuda - da inglesa - de estudar enquanto se vive. Continua a ser muito mais difícil ser estudante aqui e ainda mais difícil seguir uma carreira académica, com o espírito distraído".

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