21 abril 2011

Romance

Romance. A origem da palavra é Roma, a sede da cultura católica. É o género literário típico da cultura católica e o mais apreciado desta cultura. Não existe ninguém com capacidade para romancear como um homem ou uma mulher nascido na cultura católica. São raros os Prémios Nobel da Ciência atribuídos a autores de cultura católica. Mas os da literatura são abundantes, normalmente a romancistas. O último - Vargas Llosa - não é excepção. O romance que é, por vezes, considerado a obra máxima da literatura Ocidental - D. Quixote, de Cervantes - não podia senão ter sido escrito por um homem nascido na cultura católica e no país que, na altura, era o expoente máximo desta cultura.

A característica central do romance é que é frequentemente inspirado na realidade, possui elementos da realidade, mas o resto é fantasia. E é esta capacidade para fantasiar a realidade que é distintamente portuguesa, italiana, espanhola e latino-americana, os países ocidentais de maior influência católica.

Por princípio, nunca se deve acreditar em tudo aquilo que um português diz porque uma parte é fantasia. As coisas nunca são exactamente como ele diz, e frequentemente são mesmo muito diferentes do que ele diz, às vezes exactamente ao contrário. E isto é assim vindo de um amigo, de um intelectual, de um artista ou de um porta-voz governamental (que é a razão da indignação do Ricardo aqui).

Uma qualificação é necessária. Eu não pretendo afirmar que todos os portugueses são fantasistas. Não. Há de tudo, e em todos os graus, como é próprio da cultura católica. A tendência para romancear a realidade é uma característica do povo - e uma característica feminina - que encontra o seu oposto no realismo que é característico da elite católica - uma característica masculina. A cultura católica vive desta relação de opostos, de complementaridade, semelhante à relação que se estabelece entre um homem e uma mulher. Aquilo que um tem por defeito, o outro tem por excesso, aquilo que falta a um, o outro possui.

Numa sociedade, como a portuguesa que, a 25 de Abril de 1974, decidiu pôr de lado as suas elites, e renunciar a elas, aquilo que ficou foi o povo com a sua tendência para a fantasia. E o acontecimento que, provavelmente, mais tem sido fantasiado desde então é a própria revolução do 25 de Abril.

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