25 março 2011

Um País cheio de Portugueses

Anda por aí, na sequência da queda do Governo de Sócrates, um certo triunfalismo, proveniente de todos os quadrantes políticos. E, neste aspecto em particular, é o PSD que corre o maior risco de entrar numa certa displicência que, aliás, a avaliar pelas declarações avulsas de Pedro Passos Coelho ontem em Bruxelas, já se começa a sentir. A este propósito, sugiro, a todos aqueles que estão mais próximos de PPC, que lhe recomendem o seguinte: se ainda não tem o seu plano de governação fechado, então, homem, cale-se! Não dê trunfos aos adversários! Enfim, já aqui me expressei acerca da tagarelice de que padecem os políticos e volto ao mesmo: se ainda não há uma mensagem com princípio, meio e fim, então, para quê falar antes do tempo?!
Regressando ao triunfalismo que se sente entre a oposição ao PS, tenho, para mim, que, apesar de tudo - e não foi pouco -, a esmagadora maioria do eleitorado do Partido Socialista se manterá intacto, mesmo com mais Sócrates. A razão é simples: na minha opinião, a esmagadora maioria do povo português, nas legislativas, vota com a carteira! Por outras palavras, tendo em conta o extraordinário crescimento do Estado social e do Estado empresarial, registado nas últimas duas décadas, e o impacto/dependência que este criou na sociedade portuguesa, uma parte muito significativa desses seis milhões de portugueses que, directamente ou indirectamente, dependem da máquina pública votará sempre PS.
Além disso, para além dessa dependência económica, há outro aspecto que convém não esquecer. Em última instância, a raiz dos nossos problemas - financeiros, económicos, políticos e sociais - está na nossa cultura. Não me refiro ao duelo "prot-cath" habitualmente aqui retratado pelo nosso PA. Refiro-me, simplesmente, à nossa forma de estar e às características humanas do nosso povo. E, nesse sentido, parece-me indiscutível que José Sócrates simboliza muitas dessas qualidades e defeitos, nomeadamente o voluntarismo e a chico-espertice, que, em geral, atribuímos aos portugueses. Enfim, faz-me lembrar aquela magnífica tirada do filme "Braveheart", em que a dada altura o monarca inglês exclama indignado: "The problem of Scotland is that it is full of Scots"! Daí que, entre a impopularidade de Sócrates hoje e a data das eleições antecipadas, muita coisa possa ainda mudar...E é, também por isso, que é fundamental realizar, até lá, uma auditoria ao estado real das contas públicas portuguesas...
É hoje evidente que, voluntariamente ou involuntariamente, o Monstro está à solta. A execução orçamental divulgada há uma semana pela Direcção Geral do Orçamento assim o indiciava. E as notícias de ontem assim o confirmaram. Em 2010, o Governo repetiu até à exaustão: Portugal não é a Grécia! Os gregos aldrabaram as contas; nós não! Sendo certo que a aldrabice grega foi, de facto, de outra galáxia, não é menos certo que, por cá, as contas também deixam muito a desejar. Estou, hoje, convencido de que é nos "Serviços e Fundos Autónomos" (SFA), no "Sector Empresarial do Estado" (SEE) e nas enigmáticas PPP's que está a aldrabice. É ali que se escondem gastos principescos. É ali que se refugia a fraude. E é ali que os Portugueses serão chamados a cobrir o buraco. Na Irlanda, utilizou-se o Fundo de Pensões Público para acudir aos bancos nacionalizados. Em Portugal, tentar-se-á utilizar o Fundo de Pensões Público (FEFSS), o Ouro do Banco de Portugal e outros para acudir aos SFA's, ao SEE e, futuramente, às PPP's. Portanto, a solução é simples: cortar a eito nos "lobbies", nos "boys", nas "girls", nos interesses, na promiscuidade público-privada e no diabo a quatro. Cortar pensões? Aumentar o IVA? Sim senhor, mas só depois de eliminar todo o instituto, toda a fundação, todo o parasitismo, todo o favorecimento que fede em redor do Estado. Ficaríamos espantados com os milhares de milhões que se andam a gastar por aí fora à toa...
Mas, enfim, será que é mesmo isto que o Tuga quer?!? Essa é que é a grande questão. E não estou certo que a resposta me agrade...

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