Não é de excluir que o Parlamento irlandês não consiga aprovar o resgate financeiro que negociou este fim de semana com a UE/FMI. A aliança política que, até aqui, permitiu a implementação de programas de austeridade está em ruptura e a opinião pública está revoltada com o plano de resgate.
De facto, há, na ajuda financeira agora negociada, uma claúsula particularmente revoltante. Diz respeito à utilização do Fundo de Pensões Público para acudir aos bancos. Ou seja, em Portugal, seria o equivalente a utilizar o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) para tapar os buracos da banca. No nosso caso, o FEFSS vale cerca de 9 mil milhões de euros (mais de 5% do PIB) e, de acordo com as estimativas do Governo, só será necessário recorrer a ele lá para 2035. Até lá, através das contribuições dos portugueses activos e investindo na bolsa de forma conservadora, o fundo, em termos nominais, deverá crescer até aos 30 mil milhões.
Ora, na Irlanda, provavelmente, a situação não seria muito diferente, por isso, ao desbaratar as pensões dos irlandeses no resgate da banca, o Governo irlandês, a UE e o FMI incendiaram a população, que, na ausência de qualquer penalização dos credores directos dos bancos, protestam e protestam com muita razão. De facto, não há razão que justifique a utilização de 17,5 mil milhões de euros do Fundo de Pensões, 20% do total do resgate, quando aqueles que, directamente, deveriam sofrer as consequências de um eventual incumprimento sofrem zero. É um escândalo. É incompreensível. É imoral.
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