Se é importante assegurar que os órgãos de comunicação social têm a liberdade indispensável para difundir a informação que julgam relevante, não é menos importante o modo como o público digere a informação veiculada.
Este último factor, na minha opinião, é tão ou mais relevante do que o primeiro porque pode determinar o fim da própria liberdade de imprensa.
Ora constato que há uma diferença considerável no modo como o público aceita e reage às notícias nos países protestantes (estou a referir-me especialmente aos EUA e ao RU) e nos países católicos (Portugal).
Nos países protestantes as notícias são imediatamente relativizadas, em função dos interesses em jogo e do carácter do mensageiro. Nos países católicos, porém, as notícias têm tendência a adquirir uma vida própria e a tornarem-se elementos da realidade factual, sem escrutínio prévio. As notícias, nestes países, transformam-se numa espécie de almas penadas – notícias almas penadas (NAP) que, de noite assombram as redacções dos jornais e, de dia, assombram o País.
As notícias sobre a idoneidade do primeiro-ministro, por exemplo, transformaram-se em NAP’s e são verdadeiros personagens. Penso que num país protestante isso não seria possível, o público manter-se-ia focado sobre o essencial: a credibilidade de José Sócrates.
Esta maneira que os portugueses têm de digerir as notícias deve ser considerada pelos órgãos de comunicação social, antes de as porem preto no branco. É necessária mais contenção em Portugal do que, por exemplo, no RU. Por outro lado, as notícias oriundas dos países protestantes não podem ser reproduzidas sem a devida contextualização, sob pena de minarem a nossa cultura e de nos desinformarem. E até os autores de artigos de opinião devem ser mais comedidos por cá do que por lá porque o público confunde a opinião com a verdade.
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