Recentemente, temos visto um crescente coro de opiniões a pedir as tais medidas de austeridade que até há bem pouco tempo atrás poucos ousavam defender. Infelizmente, há ainda muito resistência e apesar de manter a esperança, vejo sinais, dia após dia, de que quer o PSD e, sobretudo, o PS, não têm a noção daquilo que nos está a ser, e que será, exigido pelos nossos credores internacionais. Como aqui defendi há dias, é imperioso e urgente fechar a torneira da despesa pública e reduzir o stock de dívida directa da República Portuguesa. Tem de ser já, pois se dermos sinais de que não precisamos dos credores, se os colocarmos num patamar de relativa indiferença, os juros baixarão.
No entanto, este sentido de emergência e de urgência não é partilhado por todos aqueles que têm responsabilidades governativas neste país. No PS, isso é evidente. No início da semana, o ministro Teixeira dos Santos anunciou uma linha de crédito de 500 milhões de euros para Angola. Hoje, o ministro das Obras Públicas adjudicou uma auto estrada de 1,5 mil milhões e afirmou que todas as grandes obras públicas estão de pé. Em suma, no momento em que o país tem de optar por uma política de tolerância zero e começar a pagar as suas dívidas, o que é que estamos a fazer? Estamos a contrair ainda mais responsabilidades, que não são tão pequenas quanto isso. No conjunto, no espaço de apenas uma semana, é mais de um 1% do PIB - mais do que a meta estimada de redução do défice orçamental para 2010.
Ao mesmo tempo, o PSD joga em território incerto. Por um lado, dá a entender que quer austeridade. Por outro lado, parece querer demonstrar que não. Por exemplo, ontem, tivemos uma reunião, aparentemente, muito austera entre o líder da oposição e o primeiro ministro. Mas horas mais tarde, na RTP-N, o professor Diogo Leite Campos, vice-presidente do PSD, dizia que para combater o défice e o endividamento não seriam necessárias medidas draconianas como corte de salários ou de prestações sociais; bastariam medidas que apontassem para ganhos de eficiência na Saúde e na Educação - nas palavras do próprio, bastaria "eliminar as gordurinhas à volta da cintura". Afinal, em que é que ficamos?!
Em suma, eu acredito que estamos em ponto de rebuçado: temos de inverter a marcha já ou então estouramos. Agora ou, mais provavelmente, em 2013. Para já, mantenho a esperança de que, através da pressão dos mercados - que, acredito, regressará nos próximos dias -, esta gente que nos governa, e que está desfasada da realidade, se amedronte, como já começou a ser visível, e faça o que é necessário. Mas essa esperança torna-se mais ténue a cada dia que passa...
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