Um dos aspectos mais salientes e negativos da actual crise política nacional consiste na forma desalmada como os titulares do poder se agarram a ele. Isto diz muito - e muito mal - dos nossos políticos e da cultura democrática portuguesa, ou da falta dela. Qualquer pessoa medianamente inteligente - os políticos incluídos - sabe que o exercício do poder é sempre efémero, mesmo em ditadura, sendo-o, pela sua própria definição, em democracia, onde os partidos aguentam uma, duas legislaturas, no máximo, e depois dão necessariamente lugar a outros. Nas últimas décadas, em Portugal, atravessando todo o período republicano, apenas António Guterres deu provas de perceber isto, com exactidão. Todos os outros políticos que passaram pelo poder só o abandonaram a pontapé. Tratou-se, talvez, do único chefe de governo da nossa República verdadeiramente católico (Salazar incluído na lista...), formação essa que não terá sido indiferente na tomada dessa decisão.
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