17 fevereiro 2010

New York, New York


Ontem, em animada conversa com o meu amigo Pedro M, que já aqui contribuiu com ideias polémicas, fui desafiado para a seguinte questão: mas qual é o drama se a UE deixar a Grécia cair na bancarrota?

Ora, a tese do Pedro é muito simples: se a Alemanha contribuir para salvar a Grécia, os mercados tenderão a assumir que também a Espanha, Portugal, Irlanda e a Itália serão salvos se necessário, contribuindo para a subida das yields...alemãs. Esse é um custo que a Alemanha não quer e, provavelmente, não poderá pagar. Assim, a melhor forma de forçar a Grécia a adoptar a disciplina associada ao euro seria deixá-la cair na bancarrota. Dir-se-á, mas se os gregos fizerem "default" na sua dívida pública, isso não os obrigará a sair do euro? "Não" - responde o Pedro -, "a única coisa que aconteceria seria uma redefinição do prémio de risco associado ao país, ou seja, 'spreads' significativamente mais altos na dívida pública grega face à alemã e que, na prática, tornariam novas emissões obrigacionistas exorbitantemente caras, logo, impossíveis. E, deste modo, a Grécia seria obrigada a ajustar o seu nível de vida".

Perante isto, surgiram-me duas dúvidas. Primeiro, sem recurso a novas emissões obrigacionistas, não poderia a Grécia pôr o seu banco central a imprimir euros à sucapa? O Pedro nem pestenajou, respondendo: "acabe-se com o Banco Central grego, ou pelo menos retire-se-lhe a capacidade de imprimir notas enquanto a sua economia não regressar aos critérios de Maastricht". Segundo, sendo forçada a adoptar uma política orçamental contracionista, não poderia a Grécia recorrer de forma mais intensa aos fundos de convergência da UE e assim equilibrar a balança? Aqui, pensei eu, a ideia anterior do Pedro também poderia valer, ou seja, enquanto não cumprirem Maastricht, não levam nada.

Enfim, há um precedente na história norte-americana recente que pode servir de modelo análogo para a crise que a Grécia atravessa actualmente. Esse precedente é a situação que o Estado de Nova Iorque viveu no final dos anos 70. Também, então, houve batota por parte dos nova-iorquinos, que se endividaram para além do limite, porém, na altura, ao contrário do que todos julgavam que ia acontecer, o Estado federal não pôs lá nem mais um tostão que fosse, conduzindo Nova Iorque à bancarrota e a um processo de contracção orçamental que se prolongou durante quase 10 dez anos. Foi duro? Foi. Foi justo? Também foi. E contribuiu para a execução das reformas necessárias, permitindo, depois, a Nova Iorque re-emergir da crise mais forte do que nunca. Porventura, é o que acontecerá à Grécia. E, um dia - talvez, não já -, também a Portugal, se a espiral de endividamento, alimentada pelo contínuo crescimento da despesa primária, não for travada a tempo.

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