28 fevereiro 2010

Madre

No post anterior argumentei que a teologia católica fornece um paradigma simples para analisar a sociedade - o paradigma da família. E procurei mostrar como a sociedade portuguesa está agora à procura de um Pai, confluindo na tese do Vasco Pulido Valente de que Portugal está a caminho de um regime político mais personalizado e também mais autoritário.

Para o efeito, utilizando o paradigma da família, argumentei que uma família sem Pai, sobretudo uma família suficientemente grande, tende para o caos e a desordem. É claro que, numa sociedade, a figura do Pai corresponde à de um Chefe de Estado possuindo amplos poderes e, em última instância, nos termos da teologia católica, corresponde à ideia de Deus.

E a Mãe? Se na teologia católica Deus é Pai de toda a sociedade humana (a Igreja prefere o termo comunidade), quem é a Mãe? E se uma sociedade sem Pai - representando a autoridade - resulta na desordem, em que é que resultaria uma sociedade sem Mãe, e o que é que a Mãe representa?

Começo por responder à segunda questão, imaginando uma família criada sem mãe nem mulher que a substitua. Que tipo de homens vão sair daqui? A tendência é para que saiam umas bestas.
Falta-lhes, em primeiro lugar, a intimidade física que só a mãe lhes pode dar e que começa no período de gestação. Falta-lhes as emoções e os sentimentos que a mãe, muito mais do que o pai, lhes pode transmitir. Mas sobretudo falta-lhes quem lhes corrija os excessos e os exageros, falta-lhes a acção moderadora e de equilíbrio, que é a principal função que a mulher desempenha numa família, incluindo o marido.
Como qualquer homem que já tenha criado uma família sabe por experiência é a mãe, mais do que o pai, que mantém a família ligada e o equilíbro da família. É ela que sabe tudo acerca de cada filho, e a informação que o pai recebe chega-lhe geralmente, não por observação directa, mas por intermédio da mãe, mesmo já depois de os filhos sairem de casa. Possuindo toda a informação relevante, a mãe pode manipulá-la, omiti-la, falsificá-la, escondê-la, sempre com o objectivo de evitar ou moderar conflitos, e manter o equilíbrio da família. Daí o enorme poder que a mulher possui na família. É a mulher que é o animal político por excelência, não o homem. Uma família pode manter-se sem um pai, mas dificilmente se manterá sem uma mãe. Por isso mesmo, em casos de separação ou divórcio, os filhos ficam geralmente com a mãe, não com o pai.
Voltando agora à primeira questão: se Deus é, em última instância, o Pai de toda a comunidade humana, quem é a Mãe? A resposta está mesmo debaixo dos olhos: a Igreja, a Santa Madre Igreja, essa mesma instituição cuja principal função na sociedade, tal como a mãe na família, é a de assegurar e manter o equilíbrio. Quer isto dizer que a Igreja Católica, como qualquer boa mãe, também faz política? Faz e não é pouca (cf. o exemplo mais recente aqui). Seria, porém, um exagero dizer que a Igreja é uma instituição política. Ela é também uma instituição divina, na realidade, ela é um equilíbrio delicado entre César e Deus.
Uma família sem Mãe tem todo o potencial para produzir, não homens, mas bestas. Por isso, não é talvez surpreendente que as maiores manifestações modernas da bestialidade humana tenham tido origem na pátria do protestantismo, o primeiro país da modernidade a rejeitar oficialmente a Mãe - a Alemanha - e tenham tido continuação naqueles outros, como a União Soviética, que também a rejeitaram.

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