20 fevereiro 2010

A ideia de comunidade

A Doutrina Social da Igreja, não é de mais insistir, assenta em três pilares teológicos fundamentais que estão, em primeiro lugar, na base da família, de todas a mais estimada instituição católica: personalismo (todos se conhecem e recebem um tratamento personalizado), solidariedade (um por todos e todos por um) e subsidiaridade (não cabe aos pais fazer aquilo que os filhos podem fazer por eles próprios).

Chesterton gostava de afirmar que a ideia de uma Igreja Católica é, ela própria, uma ideia sui generis e que a Igreja (do grego, comunidade) Católica (do grego, universal) é a única verdadeira Igreja porque só ela trata todos os homens como fazendo parte de uma comunidade que os engloba a todos - uma comunidade universal. A ideia de comunidade é central ao pensamento social católico:

"Sociedade é o conjunto de pessoas ligadas, de modo orgânico, por um princípio de unidade, que ultrapassa cada uma delas. (...) Através dela, cada homem é constituido «herdeiro», recebe «talentos» que enriquecem a sua identidade e cujos frutos deve desenvolver. Com toda a razão, cada um é devedor de dedicação às comunidades de que faz parte e de respeito às autoridades encarregadas do bem comum.
Cada comunidade define-se pelo bem a que tende e, por conseguinte, obedece a regras específicas. Mas a pessoa humana é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as
instituições sociais. " (Cat: 1880).

Não será exagerado dizer que todas as instituições sociais, aos olhos da Igreja, devem ser construidas tanto quanto possível, tomando a família como modelo já que, no limite, a Igreja pretende fazer da humanidade uma família universal. A alusão a «herdeiro» na definição católica de comunidade não deixa margem para dúvidas, e menos ainda a ideia de que a pessoa humana deve ser o fim de todas as instituições sociais. Daí o apreço que a doutrina social da Igreja dedica às chamadas sociedades intermédias - associações, confrarias, empresas, freguesias, etc:

"Além da família, também outras sociedades intermédias desenvolvem funções primárias e constroem específicas redes de solidariedade. Estas, de facto, maturam como comunidades reais de pessoas e dinamizam o tecido social, impedindo-o de cair no anonimato e na massificação, infelizmente frequente na sociedade moderna. O indivíduo é hoje muitas vezes sufocado entre dois polos: o Estado e o mercado". (CA: 49).

A confiança da Igreja só pára quando as instituições ameaçam tornar-se impessoais e o homem deixa de ser o fim último da sua existência. O Estado e o mercado (excepto se ele fôr local) estão claramente nestas condições.

Sem comentários: