O Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios, num editorial particularmente inflamado, escreve hoje o seguinte: "A cena entre Ricardo Gonçalves e Maria José Nogueira Pinto (...) não presta. (...) Os parlamentos de todo o mundo estão concentrados nos seus problemas. Uns bem, outros provavelmente mal, mas com fito. Não com fitas, como cá. Em Portugal, ninguém parece querer compreender do que se fala quando se fala em redução rápida e grande do défice (...) Olhai a proposta de Orçamento da Irlanda, ontem apresentada: redução de 5 a 15% dos salários dos funcionários públicos, menos abonos sociais e subsídios, novas taxas, reduções drásticas nas despesas da saúde, educação, segurança social. Está a acontecer-lhes a eles e vai acontecer-nos a nós."
O Pedro tem razão naquilo que está a acontecer e, sobretudo, naquilo que deveria acontecer. Porém, eu não acredito que o desfecho em Portugal vá ser semelhante ao da Irlanda. Por um lado, está a história recente que, comprovadamente, demonstra que a probabilidade de se fazer alguma redução na Despesa portuguesa está ao nível do erro estatístico. Acresce a isto, a rigidez dessa mesma despesa e, provavelmente, sem uma guerra civil, não há mesmo condições para contraír a despesa do Estado social. Por outro lado, mesmo que fosse possível fazê-lo, duvido que se encontrasse uma união de vontades (já nem digo de forças) que forçasse uma ruptura e uma mudança de paradigma. Primeiro, não há uma opinião pública - as pessoas estão demasiado concentradas no seu próprio jogo de sobrevivência, um dia de cada vez, sem grande perspectiva em relação ao dia de amanhã. Segundo, a nossa extraordinária incapacidade de jogar em equipa. Como já disse pessoalmente ao Pedro, Portugal tem individualidades ao nível dos melhores do mundo, mas colectivamente somos uma miséria. E essa será a desgraça do país. Alguma coisa irá acontecer em breve, mas essa mudança, desgraçadamente, não será induzida por nós. Por culpa própria, estamos à mercê dos outros. E a República está em risco.
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