Uma das fantasias mais prevalecentes na saúde é a de que o mercado deste sector é diferente dos outros. Não é diferente dos outros apenas pela qualidade dos produtos e serviços transaccionados, mas, como pretendem os defensores desta tese, é diferente dos outros porque as leis genéricas que o governam são diferentes.
Se me permitem a comparação, é como se a lei da gravidade não se aplicasse universalmente. Existiriam nichos recônditos do planeta onde as balas de canhão, quando as deixamos cair, não se precipitam para o chão, mas levantam voo e partem a cornadura do incauto que as atira. Mais ou menos, é esta a tese de alguns gurus.
Deste modo, todos os conceitos básicos se evaporam como o éter. O valor, o preço, a lei da oferta e da procura, a utilidade marginal, o conceito de equilíbrio, etc., esfumam-se com um aceno de cabeça. Não moram aqui...
Os especialistas chamam “falhas do mercado” às pretensas anomalias que ocorrem na saúde. Vejamos os seus argumentos:
1.A procura, na saúde, é derivada. O doente não procura cuidados de saúde, procura saúde.
2.O consumidor, na saúde, não é soberano porque existe uma assimetria de informação.
3.O preço não conta porque a procura de cuidados de saúde, devido ao estado de necessidade, é irracional.
4.A oferta pode induzir a procura, em especial devido à ignorância dos consumidores.
5.Existe pouca integração vertical no mercado.
Eu confesso que não consigo entender estes argumentos. Comparemos o mercado da saúde com o mercado automóvel:
1.Eu não pretendo um automóvel, pretendo um meio de transporte.
2.Não percebo nada de mecânica e posso ser enganado com facilidade.
3.Os vendedores encarecem os produtos porque sabem que eu preciso do automóvel para trabalhar.
4.A publicidade obriga-me a mudar de carro de três em três anos.
5.Há pouca integração vertical.
Como é que funciona então o sector da saúde? Só os oráculos é que sabem. Se lhes deixarmos oferendas, eles explicam...
- A saúde é diferente, seu descrente!
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