19 julho 2009

uma espécie de Brasil


Em que é que se tornaria a América se a ameaça católica se concretizasse e tivesse origem hispânica, isto é, se a cultura católica da América Latina, que tem origem em Portugal e Espanha, dominasse nos EUA? Destacarei neste post as três transformações principais e o seu resultado final - o fim do American Dream. Não sem antes necessitar de dois parágrafos, à guisa de introdução.
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O sonho americano assenta nos principíos protestantes da primazia das Escrituras como fonte da revelação; e na ideia de que existe uma relação directa entre o homem e Deus, que não admite intervenção humana. A salvação obtém-se directamente pela graça de Deus. Em termos seculares, tal significa que entre o homem e os seus fins (o equivalemte de Deus) ninguém se pode intrometer desde que ele respeite a Lei (o equivalente do respeito pelas Escrituras).
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Na tradição católica é diferente. A fonte da revelação não está apenas nas Escrituras, está também na chamada tradição, isto é na Doutrina da Igreja. A salvação obtém-se por intermediação humana dos padres e largamente pelo cumprimento de certos procedimentos administrados pela Igreja e, na maior parte, criados por ela - os sacramentos. Em termos seculares, a visão da vida que é projectada pela cultura católica é a de que entre o homem e os seus fins (o equivalente de Deus) devem estar outros homens (o equivalente dos padres) e o cumprimento de certos procedimentos burocráticos (o equivalente dos sacramentos). E que para atingir os seus fins não é necessariamente exigido que ele cumpra a letra da Lei (o equivalente das Escrituras), podendo lá chegar obedecendo às interpretações estabelecidas por esses outros homens (o equivalente da tradição da Igreja). Resta acrescentar que a Igreja Católica considera-se, ou considerava-se até há pouco, como a única e verdadeira interprete do Cristianismo.

A primeira consequência da dominação católica nos EUA seria a de expulsar todas as outras confissões religiosas do território, à maneira como protugueses e eespanhóis expulsaram os mouros e os judeus. A sociedade multicultural americana daria lugar a uma sociedade unicultural onde todos professariam a mesma cultura católica e de onde todas as outras culturas seriam banidas como heréticas. (Os instrumentos utilizados seriam o escárnio público, o insulto, a calúnia, a insinuação, os processos judiciais com fins persecutórios e, finalmente, a lei da expulsão). A cultura científica da América, e a sua liderança nesta área, desapareceriam.

A segunda consequência seria a queda do Império da Lei - exibida, por exemplo, na excelência da Constituição americana e dos seu sistema de justiça - e a substituição da lealdade à Lei pela pulverização das lealdades da população pelos mais numerosos caudillos (patrões, caciques locais, políticos, etc.). O sentimento de justiça desapareceria porque todas as questões nacionais passariam a ser julgadas, não com base na letra da Lei, mas com base em alegadas interpretações da Lei, favoráveis a cada um destes caudillos, ou simplesmente interpretações que eles lhe quisessem dar.
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A terceira seria a criação de uma enorme burocracia - os tais homens que na cultura católica se interpôem entre cada homem e os seus fins - a nível local, estadual e nacional. Esta burocracia seria responsável por um extraordinário aumento da corrupção no país, e punha definitivamente fim ao sonho americano, criando inúmeras dificuldades entre o homem e os seus fins - frequentemente, para depois vender as facilidades. Para um homem atingir os seus fins na vida já não bastava que ele cumprisse a lei e fosse leal a Deus. Passava a ser necessário pedir autorizações, licenças, alvarás, cumprir regulamentos complexos, que eram concedidos pelos funcionários públicos, que ele frequentemente tinha de corromper se queria atingir os seus fins.
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O common man americano perdia todas as esperanças de atingir os seus fins na vida. Só os ricos e os influentes o conseguiriam. E a sociedade americana tornar-se-ia tão estratificada e desigual como hoje são Portugal, Espanha e todos os países da América Latina. Os EUA seriam transformados numa espécie de Brasil - a democracia passaria a ser uma instituição frágil e os golpes de Estado uma ameaça real. Não se conhece um Sonho Brasileiro equivalente ao American Dream. Aquilo que se conhece é o Pesadelo Brasileiro, motivado pela miséria, pela desigualdade e pela injustiça.

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