13 julho 2009

Mas não tanto.


Excelente observação. (Esta)
Estou agora a colaborar na candidatura ao estabelecimento de um curso de mestrado na minha especialidade. Um dos items essenciais da candidatura é a referência a outros cursos de mestrado similares que já existam em universidades estrangeiras (leia-se europeias). Ou seja, para o estabelecimento e acreditação de um curso de mestrado em Portugal é crucial mostrar que tal curso não é original, que universidades estrangeiras já oferecem cursos análogos.
Luis Lavoura Homepage 07.13.09 - 4:10 pm #
.
Este comentário fez-me lembrar um episódio pessoal. No final dos anos oitenta ou princípios dos anos noventa, uma universidade privada contratou-me para elaborar o plano de um Curso de Economia que fosse inovador, o qual, segundo a lei, teria de ser submetido à apovação do Ministério (numa universidade pública este requisito não é aplicável) .
.
Indignado (como ainda hoje), com o conservadorismo e a falta de interesse dos cursos de Economia no país, eu concebi a seguinte estratégia, sempre na mira de que umas luminárias do Ministério o iam passar a pente fino. As luminárias - o nome delas nunca era conhecido - seriam provavelmente meros licenciados, funcionários do Ministério, ou, pior ainda, agentes da concorrência (professores de Economia do ensino público).
.
Todas as cadeiras seriam semestrais e, nos primeiros anos, incluiria aquelas disciplinas convencionais sem as quais o curso não teria a mínima hipótese de ser aprovado (Microeconomia, Macroeconomia, Estatística, etc). Nos últimos anos estariam concentradas disciplinas totalmente novas e que formariam o estudante no espírito de uma verdadeiro economista, de acordo com a concepção que possuo de que a Economia é um ponto de vista sobre a realidade. Dali sairiam homens e mulheres formados verdadeiramente no espírito do economista, e não padres-economistas.

Para o efeito, adoptei o critério dos Prémios Nobel. O Prémio Nobel da Economia distingue em cada ano uma nova linha de investigação e é atribuido a um autor que nela se tenha distinguido, normalmente o seu líder. Assim, as disciplinas dos últimos anos seriam Economia da Família, Economia do Crime, Economia da Política, Economia do Ambiente, Economia da Religião, Economia da Lei, Economia do Desporto, etc., e a bibliografia respectiva começava, sempre que possível, com as obras de um Prémio Nobel, seguida de outros autores de reconhecido mérito.

Passado mais de um ano (às vezes demora três) veio o despacho do Ministério. Nele, o Ministério reconhecia que era preciso inovar no ensino da Economia em Portugal. Mas não tanto.
O curso foi chumbado.

Sem comentários: