Por entre todos os programas que ao longo dos últimos vinte anos a União Europeia ofereceu aos portugueses, um dos que tenho mais apreço é o Erasmus, aquele que permite aos estudantes universitários passarem seis meses numa universidade estrangeira. Recomendo a todos os estudantes que se aproveitem dele, de preferência num país do norte da Europa. É uma oportunidade, às vezes única, para os jovens portugueses abrirem o espírito, porque eles são educados numa cultura fechada e de espírito fechado.
Um dos principais inconvenientes de se ser nascido e criado numa cultura universal (católica) é a ilusão que ela incute de que o mundo está todo ali representado na terra onde se nasceu - um mundo que até há pouco tempo era frequentemente uma aldeia de província e agora é, quando muito, as cidades de Lisboa e Porto e outras poucas mais, todas elas, com excepção da primeira, verdadeiras aldeias com muitas casas. Todos pensam da mesma maneira, todos se conhecem, todos se comportam da mesma maneira e todos têm a mesma pretensão de que não há no mundo nada para aprender que não esteja ali representado. Não nasceram eles, afinal, numa cultura universal (católica)?
É esta ilusão que confere às pessoas nascidas e criadas numa cultura católica o seu distintivo provincianismo, a que se referia Pessoa. Aquilo que encontram lá fora, as maneiras de fazer, de viver ou de pensar, causam-lhes uma genuína impressão e constituem ao mesmo tempo uma ofensa. Como é possível que existisse um mundo que eles não conheciam, sendo eles portadores e agentes de uma cultura universal? Por isso, como que envergonhados, apressam-se rapidamente a imitar e a integrar na sua cultura tudo aquilo que vêem lá fora, e que sempre deveria ter estado na sua cultura. É certamente uma ironia que o provincianismo dos povos de cultura católica seja uma consequência directa do universalismo da sua própria cultura.
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