29 junho 2009

o negócio da salvação das almas


Neste post eu pretendo lançar as bases de uma análise da Igreja Católica e da sua história sob uma perspectiva estritamente económica. Esta análise permite lançar luz sobre muitos acontecimentos e instituições que estão ligadas à história da Igreja no mundo, e sobretudo explicar vários dos comportamentos, instituições, vícios culturais e problemas actuais de Portugal, um dos mais genuínos países católicos do mundo.
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O quadro de análise é o seguinte. A Igreja desempenha tradicionalmente duas funções no seio do Cristianismo. Uma é a de autoridade docente, outra a de agência sacramental. Durante muitos séculos a Igreja exerceu estas duas actividades em regime de monopólio - um monopólio quebrado parcialmente com o Cisma do Oriente no séc. XI e com a Reforma Protestante no séc. XVI. Em Portugal (como em Espanha) a Igreja manteve o seu monopólio sempre intacto.
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Na função de agência sacramental, a Igreja está no negócio da salvação das almas, sendo intermediária entre os fieis e Deus. Para o efeito, oferece sete produtos que os fieis são supostos comprar para obter a salvação. Foi este negócio de intermediação que os Protestantes aboliram no norte da Europa, passando os fieis a obter a salvação directamente da graça de Deus, sem agenciamento da Igreja.
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Os sete produtos são os Sacramentos. Cinco dos produtos vendem-se em momentos coincidentes com marcos importantes na vida de uma pessoa, e são produtos de procura praticamente certa. O Baptismo é coincidente com o nascimento; a Confirmação ou Crisma é coincidente com a adolescência ou a entrada na idade da razão; O Matrimónio é coincidente com maturidade e a dedicação da vida a uma outra pessoa para fins de reprodução; a Ordem, se a pessoa decide, alternativamente, dedicar a sua vida a Deus; e a Extrema Unção ou Unção dos Doentes é coincidente com a morte. Os outros dois produtos podem comprar-se a qualquer momento. Refiro-me à Comunhão (Missa), celebrando a aproximação a Deus, e a Penitência, visando redimir os pecados.
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Em contrapartida dos serviços prestados, a Igreja recebe emolumentos, pagamentos em espécie, e outros em dinheiro (esmolas, doações, heranças, subsídios do Estado etc.). A minha presunção é que, ao longo da história da Igreja, os produtos mais rentáveis foram o Baptismo e o Matrimónio, pela regularidade das suas receitas, a Extrema Unção (a tentação para legar a fortuna à Igreja em troca da salvação é considerável), e, sobretudo as Penitências. Foi, aliás, a especulação neste produto que nos países protestantes levou a acabar com o negócio da Igreja.
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A Igreja maximiza as receitas do Baptismo e da Extrema Unção defendendo a maximização dos nascimentos; maximiza as receitas do Matrimónio defendendo a maximização dos casamentos. Mas como pode ela maximizar as receitas das Penitências?

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