21 junho 2009

ciência e filosofia


O Princípio da Sola Escritura foi decisivo para o aumento da alfabetização e dos níveis de escolaridade nos países protestantes em relação aos países católicos, e só muito recentemente, passados cinco séculos, é que estes começaram a diminuir o gap.

Mais acentuadas ainda foram as diferenças que esse Princípio produziu entre países protestantes e países católicos no domínio da ciência e da filosofia. Tomando como critério o galardão máximo que é atribuido na ciência - o Prémio Nobel -, quem consultar a lista dos galardoados observará o domínio esmagador dos cientistas oriundos dos países do norte da Europa e da América do Norte. Tomando a França como país fronteira entre países protestantes, a norte, e países católicos, a sul, é extraordinariamente diminuto o número de cientistas laureados com o Prémio Nobel das ciências oriundos dos países do sul da Europa e da América Latina em comparação com os países do norte da Europa e da América do Norte, e os poucos que existem quase sempre desenvolveram as suas carreiras em algum país protestante, normalmente os EUA. (Acontece assim, por exemplo, com o economista italo-americano Franco Modigliani). (Ver aqui)

Na filosofia, o panorama é igualmente desolador. A filosofia moderna inaugurada por Descartes é preenchida por nomes oriundos do norte da Europa (John Locke, David Hume, Kant, Hegel, etc.) e não é fácil encontrar um nome - um único sequer - nascido em Portugal, Espanha, Itália, Argentina, Brasil ou México. Tal como no domínio da ciência, a pobreza é atroz. Só nos domínios das artes, da literatura e da poesia é possível encontrar alguns nomes de relevo oriundos de países católicos.

O desenvolvimento da ciência e da filosofia exige a cultivação e o exercício da razão humana. E para ver como a tradição protestante a cultiva muito mais intensamente do que a tradição católica, valerá a pena voltar ao meu último post para analisar como, num e noutro caso, se chega à verdade da palavra de Cristo - verdade que é o objectivo da ciência e da filosofia modernas. No caso protestante, o processo é colectivo ou grupal. Várias pessoas, cada uma tendo feito o seu trabalho de casa - isto é, lido as Escrituras - sentam-se à volta de uma mesa para discutirem, digamos, o que é que Cristo quis dizer com a Parábola dos Talentos. Cada um esforça-se por dar uma contribuição que avance a discussão até se chegar a um consenso. O processo termina quando o consenso é atingido.

Mudemo-nos agora para um ambiente católico onde o mesmo assunto é tratado - uma missa católica. A situação é aí muito diferente. Em lugar de várias pessoas sentadas à volta de uma mesa, todas preparadas e em plano de igualdade, e cada um dando uma contribuição para se chegar a um consenso, o que vemos nós? Um homem - o padre ou autoridade - por detrás dum púlpito e num plano superior aos demais, e depois a assistência (os leigos, literalmente, os ignorantes), a aceitarem passiva e acriticamente tudo aquilo que o padre diz sobre o assunto. Aquilo que choca na comparação é o exercício activo da razão ou da inteligência no caso da reunião protestante, e a completa passividade intelectual dos leigos que assistem à missa católica. Não há uma pergunta, uma objecção, uma contestação àquilo que o padre diz, em parte, porque também não há preparação. Os leigos não leram a Bíblia e não conhecem o contexto, as nuances e o ênfase das palavras de Cristo na Parábola dos Talentos como, de resto, em qualquer outra passagem das Escrituras.

Ao contrário da cultura protestante, em que a verdade está no consenso racional de várias pessoas, a verdade, na cultura católica, está na palavra da autoridade (o padre), a qual é passivamente aceite pelos demais, sem qualquer manifestação crítica. Uma cultura, como a católica, cuja característica principal no domínio das ideias é a mais completa abulia intelectual da esmagadora maioria das pessoas, tal como representada pela passividade dos leigos que assistem à missa, é uma cultura que não está preparada para produzir nem cientistas nem pensadores. E a realidade é que não os produz com intensidade comparável à da cultura protestante.

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