25 junho 2009

Um problema de atitude


A "rejeição do acordo foi mau negócio para trabalhadores" escreve hoje o Público na sua primeira página, tal como eu defendi há dias aqui no PC. E as medidas que, agora, a administração irá implementar representarão uma redução salarial superior à prevista no pré-acordo, sendo generalizada entre todos os trabalhadores.

Enfim, é a consequência lógica de uma negociação falhada: sofre mais quem menos tem para oferecer. Contudo, há duas nuances no comunicado de ontem que importa destacar. Comecemos pela positiva. A administração deu a entender que o regresso ao pré-acordo ainda é possível, ou seja, estendeu a mão de novo aos trabalhadores. Cabe a estes retribuir a gentileza. Caso contrário, os termos da negociação falhada voltarão a endurecer, sendo a Autoeuropa, provavelmente, descontinuada. De resto, a nuance negativa de ontem foi a seguinte: ao contrário do que era expectável, os 250 trabalhadores a prazo não serão ainda dispensados e todos (a prazo ou não) terão salários menores durante o período de layoff. Quer isto dizer que a administração preferiu sacrificar TODOS os trabalhadores e não apenas aqueles que a Comissão de Trabalhadores (CT), ao rejeitar o pré-acordo, entendeu como dispensáveis.

A fábrica da Autoeuropa não representa sequer 2% do volume global de produção da VW. E com a redução de produção anunciada para o último trimestre do ano, a sua importância relativa talvez seja ainda menor. Portanto, política à parte, por que razão irão os alemães perder o seu tempo (e o seu juízo) com esta unidade? Não vão. O paradigma da indústria automóvel está em mutação. Por momentos, ainda se pensou que a falência da GM poderia beneficiar os que, entretanto, se aguentassem, mas até isso se põe em causa hoje em dia. Infelizmente, esta percepção ainda foi interiorizada pela CT em Palmela. Pelo contrário, a CT anda a empatar por causa de 6 sábados ao ano, o que nas circunstâncias actuais é ridículo e uma atroz demonstração de rigidez. De má vontade. É que negociar quando a conjuntura é favorável - como aconteceu nos últimos anos e que foi louvado por todos - é muito fácil. Ao invés, quando a conjuntura é má, todos têm de perder alguma coisa a fim de que ninguém perca tudo. É esta atitude, esta falta de solidariedade que, em última instância, ditará o fim da Autoeuropa. Porque se fosse apenas pelos números, os alemães já cá não estavam há muito tempo.

Sem comentários: