Eu partilho largamente esta visão da realidade.
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O tema central da entrevista de Medina Carreira é a degradação da situação económica - especialmente o endividamento - e das instituições. A este último respeito, ele põe ênfase na educação, na justiça, nos governos, nos partidos, até na qualidade dos primeiros-ministros.
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As soluções que propõe para reverter estas tendências parecem, no entanto, ficar-se por meros apelos - apelos aos partidos para que se reformem, aos políticos para que corrijam as prioridades da governação, apelos a reformas da justiça e da educação, etc. Medina Carreira parece acreditar que foi a democracia que conduziu ao actual estado de coisas, mas ainda assim deposita uma espécie de fé não explicada de que a democracia tem capacidades de auto-regeneração em Portugal.
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Eu partilho a visão de que foi a democracia que conduziu ao actual estado de coisas. Mas não tenho fé nenhuma que ela seja capaz de se auto-regenerar. O meu argumento, nesta matéria, é de natureza histórica e cultural. Primeiro, nunca houve, na história de Portugal, um único caso em que a democracia alguma vez se tenha auto-regenerado. Quando os regimes democráticos sofreram alterações no país, e nalguns casos acabaram, foi sempre por força de factores exógenos, como circunstâncias externas ou golpes de estado.
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Segundo, porque à medida que a democracia degrada as instituições e, como nota Medina Carreira, homens de menor qualidade ascendem ao poder e controlam as instituições e a política, a capacidade da sociedade portuguesa para formar consensos é cada vez menor. Tal resulta da cultura portuguesa e funda-se num argumento que iniciei aqui. Na nossa cultura, o ênfase é colocado na personalidade das pessoas e nas suas diferenças, não na natureza humana e naquilo que elas têm comum.
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Existem duas maneiras para um homem diferenciar a sua personalidade em relação aos outros. A primeira é positiva, e também a mais difícil, e consiste em afirmar uma característica de carácter que os outros não possuem. A segunda é negativa, e mais fácil, e consiste em ele atribuir aos outros características de carácter que não atribui a si próprio (v.g., "os portugueses são todos corruptos (excepto eu, bem entendido)"). Este tipo de homens, que constituem a massa da sociedade, são incapazes de gerar consensos, na medida em que a sua própria personalidade depende de eles se demarcarem dos outros.
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