Eu fiquei gratificado quando ontem o Rui decidiu dizer bem da comida portuguesa. É claro que o julgamento não é o nosso forte e rapidamente passamos do oito ao oitenta. Eu não estou certo que a comida alentejana seja a melhor do mundo, como ele pretende, nem sequer a melhor de Portugal. Estou certo que a gastronomia portuguesa é boa e que a alentejana também, embora dois especialistas na matéria, que são membros de júris em concursos internacionais de gastronomia me assegurassem recentemente que a melhor é a do Minho, seguida do Alentejo, Trás-os-Montes e Beiras (eu próprio não me sinto competente para julgar estas distinções finíssimas).
Gostaria, no entanto, de tecer algumas considerações mais sobre o tema. Primeiro, no âmbito da civilização ocidental, que eu divido basicamente em católica e protestante, é certo que os países de cultura católica (Itália, Portugal, Espanha, América Latina) possuem uma gastronomia muito melhor que os de cultura protestante. Trata-se aqui de uma vantagem dos católicos na esfera privada, como existem várias outras, tal qual aludi no meu último post. A gastronomia católica é aqui coincidente com a chamada dieta mediterrânica, com o seu ênfase na fruta e nos legumes, no peixe fresco, no vinho tinto, no azeite, no pão e nas massas. É uma dieta mais saudável e uma dieta mais rica do que a dos países de cultura protestante.
Ao contrário do que diz o Rui não é uma gastronomia barata. Pelo contrário, é mesmo muito cara, sobretudo porque é uma gastronomia muito elaborada e que demora muito tempoa confeccionar, para além da variedade dos ingredientes que consome. Por isso é uma gastronomia que tem dificuldade em internacionalizar-se. É demasiado elaborada e sofisticada para ser imitada à distância, e consome muito tempo para ser viável em países em que o tempo é dinheiro.
Gastronomia barata é a americana, à base de pão (hamburgers, pizzas), massas e frango de aviário. Dentre a gastronomia "católica" a única que conseguiu, em parte, internacionalizar-se, foi a italiana porque, possuindo qualidade, é a mais barata de todas (pizza, massas) e foram os americanos que a internacionalizaram porque os países católicos, dizendo sempre mal daquilo que é seu, nunca o conseguiriam fazer. A gastronomia portuguesa, pelo contrário, embora se encontre no estrangeiro, não está generalizada, pelas razões que invoquei.
Fica, no entanto, alguma coisa de bom em Portugal. É um começo. Não há nada como ir ao estrangeiro para descobrir a verdade sobre Portugal. É que depois de uma dose de Oliveira Martins eu estava pronto a emigrar. Quando no final dos anos setenta fui viver para o estrangeiro, aquilo de que tinha mais saudades era do café e do clima. Mas nós só damos pelas coisas boas quando elas nos faltam, sobretudo numa população que não tem capacidade de julgamento nem de abstracção, que é a capacidade para conhecer independentemente de ver.
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Quando os portugueses se decidirem a fazer um julgamento justo sobre o seu país, salientando aquilo que é bom e enfatizando aquilo que é mau, então poderão encontrar as soluções para melhorar o país. E não apenas isso. Terão melhor auto-estima, que é aquilo que mais falta faz numa população em que os seus intelectuais fazem gala em dizer mal de tudo o que é português e de todos os que são portugueses, excepto, obviamente, deles próprios. Estes intelectuais é que, desde há pelo menos dois séculos, são o mal de Portugal. Quem lhes desse um pano encharcado...
Gostaria, no entanto, de tecer algumas considerações mais sobre o tema. Primeiro, no âmbito da civilização ocidental, que eu divido basicamente em católica e protestante, é certo que os países de cultura católica (Itália, Portugal, Espanha, América Latina) possuem uma gastronomia muito melhor que os de cultura protestante. Trata-se aqui de uma vantagem dos católicos na esfera privada, como existem várias outras, tal qual aludi no meu último post. A gastronomia católica é aqui coincidente com a chamada dieta mediterrânica, com o seu ênfase na fruta e nos legumes, no peixe fresco, no vinho tinto, no azeite, no pão e nas massas. É uma dieta mais saudável e uma dieta mais rica do que a dos países de cultura protestante.
Ao contrário do que diz o Rui não é uma gastronomia barata. Pelo contrário, é mesmo muito cara, sobretudo porque é uma gastronomia muito elaborada e que demora muito tempoa confeccionar, para além da variedade dos ingredientes que consome. Por isso é uma gastronomia que tem dificuldade em internacionalizar-se. É demasiado elaborada e sofisticada para ser imitada à distância, e consome muito tempo para ser viável em países em que o tempo é dinheiro.
Gastronomia barata é a americana, à base de pão (hamburgers, pizzas), massas e frango de aviário. Dentre a gastronomia "católica" a única que conseguiu, em parte, internacionalizar-se, foi a italiana porque, possuindo qualidade, é a mais barata de todas (pizza, massas) e foram os americanos que a internacionalizaram porque os países católicos, dizendo sempre mal daquilo que é seu, nunca o conseguiriam fazer. A gastronomia portuguesa, pelo contrário, embora se encontre no estrangeiro, não está generalizada, pelas razões que invoquei.
Fica, no entanto, alguma coisa de bom em Portugal. É um começo. Não há nada como ir ao estrangeiro para descobrir a verdade sobre Portugal. É que depois de uma dose de Oliveira Martins eu estava pronto a emigrar. Quando no final dos anos setenta fui viver para o estrangeiro, aquilo de que tinha mais saudades era do café e do clima. Mas nós só damos pelas coisas boas quando elas nos faltam, sobretudo numa população que não tem capacidade de julgamento nem de abstracção, que é a capacidade para conhecer independentemente de ver.
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Quando os portugueses se decidirem a fazer um julgamento justo sobre o seu país, salientando aquilo que é bom e enfatizando aquilo que é mau, então poderão encontrar as soluções para melhorar o país. E não apenas isso. Terão melhor auto-estima, que é aquilo que mais falta faz numa população em que os seus intelectuais fazem gala em dizer mal de tudo o que é português e de todos os que são portugueses, excepto, obviamente, deles próprios. Estes intelectuais é que, desde há pelo menos dois séculos, são o mal de Portugal. Quem lhes desse um pano encharcado...
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