13 abril 2009

chega a ser atroz



Quando, no início dos anos 80, o Chile privatizou o seu sistema de segurança social, o Wall Street Journal escreveu um grande editorial afirmando que esta tinha sido a única ideia de política social saída dos países do hemisfério sul (isto é, católicos) em mais de meio século.

Fica como curiosidade o facto de essa ideia ter sido produzida sob o regime de Pinochet. O meu ponto neste post, porém, é diferente. Trata-se de realçar o facto de os países católicos como Portugal, e com aquela excepção do Chile, serem incapazes de pensar a sua sociedade e encontrarem instituições e soluções para resolverem os seus próprios problemas e aspirações.

Aquilo que Portugal fez, sempre que pôde, foi imitar servilmente as instituições das democracias-liberais do norte da Europa e da América do Norte. Estas eram instituições que tinham sido concebidas para uma cultura particular - que tenho chamado cultura de inspiração protestante - e para sociedades particulares que possuiam problemas e especificidades particulares, a mais significativa de todas a sua profunda divisão religiosa que era a fonte de ódios de morte e de permanentes tumultos civis. Foram estas instituições que Portugal importou e com as quais vive ainda hoje. Claro que tendo sido concebidas para uma cultura diferente e para resolver problemas diferentes que não existem em Portugal, elas funcionam mal no país.

A falta de independência e de originalidade do pensamento político português - se é que existe algum - chega a ser atroz. Nas discussões políticas, as referências são sempre feitas a autores estrangeiros e pertencentes àquela cultura - a protestante - que é diferente e, em muitos aspectos se opõe, à nossa cultura católica. Os heróis do pensamento político português são homens como John Locke, Montesquieu, Rousseau, Marx ou Hayek. E, no entanto, eles não escreveram uma linha a pensar em Portugal ou, para o efeito, em qualquer país de tradição católica. Eu penso que o seu pensamento é largamente irrelevante para Portugal.

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