20 março 2009

verdadeira


Eu tenho um grande apreço pelo Papa Bento XVI que considero o maior exemplo vivo daquela figura que tenho aqui descrito em abstracto - o homem de elite da tradição católica. Aprecio nele o nível intelectual, a sua personalidade e a forma como governa a Igreja Católica, que é mais abrangente instituição que o mundo possui com 1.2 mil mihões de fieis, um quinto da população mundial, e uma voz de autoridade em relação a muitos outros.

O Papa é um intelectual de primeira categoria e um exímio doutrinador. Na sua posição anterior de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - a parte da cúria romana que se ocupa das questões doutrinais da Igreja, anteriormente chamada Inquisição - e agora na sua condição de Papa, ele é o homem que, ao longo dos últimos 25 anos, mais do que qualquer outro, contribuiu para enformar a doutrina da Igreja e, em particular, corrigir os excessos resultantes do Concílio Vaticano II. Ele ficará na história da Igreja como um grande doutrinador.

Este Papa não ambiciona ser popular nem pretende uma Igreja popular. Ele quer, em primeiro lugar, uma Igreja verdadeira e isso significa pôr a verdade à frente da popularidade. Ele prefere uma Igreja pequena e verdadeira a uma Igreja grande e popular. Não devem surpreender, por isso, as suas declarações recentes acerca da ineficácia do preservativo para resolver o problema da sida. Esta é a verdade, embora uma verdade impopular.

As reacções não se fizeram esperar, começando nos países protestantes, e em particular com origem na ONU, onde muitas pessoas fazem vida de andar a distribuir preservativos em África e a acudir a pobreza, através de múltiplas ONG's financiadas com dinheiro dos outros. A governo espanhol , em conflito com o Vaticano por causa dos casamentos gay, fez questão de ser ofensivo e enviar um carregamento de preservativos para África. E até, por último, a nossa ministra da saúde não ficou calada. Sobre a sua reacção gostaria de escrever um parágrafo.

Existe uma grande propensão da mulher portuguesa para dizer aquilo que lhe vem à cabeça, reflectindo a falta generalizada de julgamento dos portugueses, mais acentuada nas mulheres do que nos homens. Este blogue fornece exemplos disso. Porém, quando se trata de falar em público, nunca um português, menos ainda uma portuguesa, ousa dizer alguma coisa antes que os outros o tenham dito. E foi isso que a nossa ministra fez. Falou mal, tarde e a más horas. Se tivesse estado calada nada se teria notado.
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Voltando ao Papa. Esta faceta de dizer a verdade e seguir impassível em frente, perante os agravos, os protestos e os insultos da multidão, é típica do Papa Bento XVI e é uma das características da sua personalidade que eu mais aprecio, em parte porque faz lembrar Cristo. Ele não está cá para agradar à multidão. Ele está cá para dizer a verdade, esperando que um dia a multidão reconheça a verdade. Aquilo que ele nunca irá fazer é deixar de dizer a verdade só para agradar à multidão. Este é o ponto.

Passemos à verdade. Claro que o preservativo não é uma solução eficaz para lidar com o problema da sida, e só o agrava. A única solução eficaz é a abstinência sexual envolvendo pessoas com sida, ou suspeitas de a ter. Não existe outra. O preservativo pode evitar o contágio numa relação sexual - e o Papa não nega isso -, mas encorajando e promovendo uma cultura de promiscuidade sexual, a prazo vai contribuir para aumentar a sida, não para a diminuir.

O africano que se habituou, porque a ONU lhe deu um stock de preservativos, a ter relações sexuais com sete mulheres diferentes por semana, quando os preservativos lhe faltarem e ele não tiver dinheiro para os comprar ou a ONU não estiver por perto para lhe dar mais, não vai deixar de continuar a visitar as sete mulheres por semana a que se habituou. E aqui surge o problema. Mais cedo ou mais tarde, este homem que começou por usar preservativos possui um elevado risco de acabar por morrer de sida.

Não é possível ter o melhor de dois mundos, sexo sem restricções e , ao mesmo tempo, ficar livre da sida no meio de uma população infectada em alto grau - mesmo com preservativos. Quem ambiciona o melhor de dois mundos incompatíveis, acaba normalmente por ficar com o pior dos dois. E o pior dos dois é ter sida e não ter sexo - isto é, morrer.

Porém, a mensagem de abstinência sexual que o Papa levou para África não é apenas a mensagem eficaz para lidar com o problema da sida. Ela é também a única mensagem verdadeira para lidar com um problema africano muito mais sério ainda - o problema da pobreza -, responsável todos os anos pela morte prematura de milhões de pessoas. A probreza em África, como em qualquer outro continente, é ainda um problema de cultura sexual.

A cultura sexualmente promíscua dos africanos, em que cada homem tem pelo menos seis mulheres e três filhos de cada uma, é a responsável directa pela pobreza do continente. Não existe pai de dezoito filhos num continente pobre que, por mais que trabalhe, consiga sustentar cada um dos filhos acima do nível de pobreza. Tanto mais quanto é certo que cada uma das mulheres de quem ele tem filhos é também mãe de filhos de outros pais, incentivando cada homem a empurrar para os outros o sustento dela e da sua numerosa prole, com o resultado final de que os homens generalizadamente não cuidam dos filhos.

Segue-se que a abstenção sexual, ou pelo menos uma enorme contenção, não é meramente a única solução eficaz para resolver o problema da sida. É também a única solução eficaz para resolver um problema muito mais grave - o da probreza.

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