Ao redigir o post anterior, uma ideia ocorreu-me ao espírito e que gostaria de desenvolver. Parece certamente uma ironia que o Papa Bento XVI, que é um grande intelectual e um grande doutrinador - talvez o maior que a Igreja conheceu nos últimos séculos - tenha nascido no país que é a pátria do protestantismo - a Alemanha.
Antes de tratar este assunto, gostaria de voltar à celeuma que as declarações do Papa acerca do preservativo e da sida levantaram para fazer duas observações. As críticas vieram em primeiro lugar dos países protestantes e de organizações ligadas à ONU. Chegaram a acusar o Papa de ser um mau comunicador, quando na realidade o Papa é um excelente comunicador, como se prova mais uma vez. Ninguém ficou com dúvidas acerca daquilo que ele quis dizer.
A primeira observação é, no entanto, para notar que a ONU é uma filha da Igreja. Foi a Igreja Católica que, em primeiro lugar, desempenhou na civilização o papel de juiz do direito internacional que agora cabe à ONU. Parece claro, todavia, que a filha não saiu igual à mãe. E a razão é que a ONU é uma instituição predominantemente protestante, e sedeada num país protestante, e só nos países católicos as filhas saem iguais às mães (como argumentei aqui). Nos países protestantes isso não acontece, como argumentarei numa próxima oportunidade.
Segundo, eu gostaria de ver um dos críticos do Papa, incluindo a nossa ministra da saúde, sentar-se com ele, em ambiente neutro, para discutir racionalmente a questão do preservativo e da sida. Eu imagino o desfecho. O Papa punha-o na ponta do dedo indicador, dava-lhe duas voltas, e em cinco minutos ele estava estatelado no chão feito num frangalho. Ninguém tenha ilusões.
A razão é que o Papa Bento XVI é a racionalidade em pessoa. E a racionalidade temperada com a capacidade de julgamento que só lhe pode ter vindo da influência protestante da sua nativa Alemanha. Um intelectual deste calibre - o arquétipo do intelectual católico -, dificilmente poderia ter nascido num país exclusivamente católico, como Portugal, a Espanha ou a Polónia, para não falar em qualquer país da América Latina. Como argumentei noutro post, os países exclusivamente católicos têm grande dificuldade em produzir intelectuais.
Os países católicos são capazes de produzir pessoas imensamente humanas, como o Papa João Paulo II. Mas é precisamente a sua excessiva humanidade que os torna parciais e lhes retira capacidade de julgamento. Para produzir julgamento é necessária imparcialidade e isso requer distanciamento. A observação que, por vezes, se faz ao Papa Bento XVI, de parecer distante, talvez até pouco simpático, o seu ar austero, senão mesmo severo, não é mais do que a expressão corporal da sua capacidade de julgamento.
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O Papa João Paulo II irradiava bonomia e simpatia, mas não era um grande intelectual. O Papa Bento XVI, não irradia provavelmente nem bonomia nem simpatia, mas é um grande intelectual e um grande doutrinador. A sua capacidade de julgamento - em primeiro lugar, em relação àquilo que é a verdadeira tradição católica - é muito superior à do seu antecessor. Apenas um exemplo. O Papa João Paulo II ambicionava tornar a Igreja popular. Bento XVI, pelo contrário, acha que a Igreja não deve ser popular. Quem é mais fiel a Cristo nesta matéria? Bento XVI porque a mensagem de Cristo, em primeiro lugar, não foi uma mensagem popular. Antes pelo contrário.
A Alemanha, ao contrário da Inglaterra, nunca proibiu o catolicismo. Pelo contrário, permitiu que o catolicismo e o protestantismo se batessem no seu interior. É natural assim que o pensamento católico seja um pensamento vivo na Alemanha porque foi aí que se jogou pela primeira vez a defesa da sua própria sobrevivência. Por outro lado, esse pensamento não pode deixar de estar influenciado e temperado pela maior virtude do protestantismo - o seu sentido de justiça.
É a verdade católica, com o seu ênfase na razão, temperada pelo sentimento de justiça protestante, com o seu ênfase na equidade, que se reunem admiravelmente na pessoa do Papa Bento XVI. Seria difícil um país exclusivamente católico produzir esta combinação extraordinária.
Antes de tratar este assunto, gostaria de voltar à celeuma que as declarações do Papa acerca do preservativo e da sida levantaram para fazer duas observações. As críticas vieram em primeiro lugar dos países protestantes e de organizações ligadas à ONU. Chegaram a acusar o Papa de ser um mau comunicador, quando na realidade o Papa é um excelente comunicador, como se prova mais uma vez. Ninguém ficou com dúvidas acerca daquilo que ele quis dizer.
A primeira observação é, no entanto, para notar que a ONU é uma filha da Igreja. Foi a Igreja Católica que, em primeiro lugar, desempenhou na civilização o papel de juiz do direito internacional que agora cabe à ONU. Parece claro, todavia, que a filha não saiu igual à mãe. E a razão é que a ONU é uma instituição predominantemente protestante, e sedeada num país protestante, e só nos países católicos as filhas saem iguais às mães (como argumentei aqui). Nos países protestantes isso não acontece, como argumentarei numa próxima oportunidade.
Segundo, eu gostaria de ver um dos críticos do Papa, incluindo a nossa ministra da saúde, sentar-se com ele, em ambiente neutro, para discutir racionalmente a questão do preservativo e da sida. Eu imagino o desfecho. O Papa punha-o na ponta do dedo indicador, dava-lhe duas voltas, e em cinco minutos ele estava estatelado no chão feito num frangalho. Ninguém tenha ilusões.
A razão é que o Papa Bento XVI é a racionalidade em pessoa. E a racionalidade temperada com a capacidade de julgamento que só lhe pode ter vindo da influência protestante da sua nativa Alemanha. Um intelectual deste calibre - o arquétipo do intelectual católico -, dificilmente poderia ter nascido num país exclusivamente católico, como Portugal, a Espanha ou a Polónia, para não falar em qualquer país da América Latina. Como argumentei noutro post, os países exclusivamente católicos têm grande dificuldade em produzir intelectuais.
Os países católicos são capazes de produzir pessoas imensamente humanas, como o Papa João Paulo II. Mas é precisamente a sua excessiva humanidade que os torna parciais e lhes retira capacidade de julgamento. Para produzir julgamento é necessária imparcialidade e isso requer distanciamento. A observação que, por vezes, se faz ao Papa Bento XVI, de parecer distante, talvez até pouco simpático, o seu ar austero, senão mesmo severo, não é mais do que a expressão corporal da sua capacidade de julgamento.
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O Papa João Paulo II irradiava bonomia e simpatia, mas não era um grande intelectual. O Papa Bento XVI, não irradia provavelmente nem bonomia nem simpatia, mas é um grande intelectual e um grande doutrinador. A sua capacidade de julgamento - em primeiro lugar, em relação àquilo que é a verdadeira tradição católica - é muito superior à do seu antecessor. Apenas um exemplo. O Papa João Paulo II ambicionava tornar a Igreja popular. Bento XVI, pelo contrário, acha que a Igreja não deve ser popular. Quem é mais fiel a Cristo nesta matéria? Bento XVI porque a mensagem de Cristo, em primeiro lugar, não foi uma mensagem popular. Antes pelo contrário.
A Alemanha, ao contrário da Inglaterra, nunca proibiu o catolicismo. Pelo contrário, permitiu que o catolicismo e o protestantismo se batessem no seu interior. É natural assim que o pensamento católico seja um pensamento vivo na Alemanha porque foi aí que se jogou pela primeira vez a defesa da sua própria sobrevivência. Por outro lado, esse pensamento não pode deixar de estar influenciado e temperado pela maior virtude do protestantismo - o seu sentido de justiça.
É a verdade católica, com o seu ênfase na razão, temperada pelo sentimento de justiça protestante, com o seu ênfase na equidade, que se reunem admiravelmente na pessoa do Papa Bento XVI. Seria difícil um país exclusivamente católico produzir esta combinação extraordinária.
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