Ontem, a Sonae apresentou resultados. Mais do que a sua performance financeira, mais ou menos em linha com aquilo seria de esperar, o que mais me chamou a atenção foi o resto. E, confesso, não estou certo de ter gostado.
Primeiro, vejo em Paulo Azevedo um homem tristonho. Aliás, a fotografia que, ironicamente, o jornal Público apresenta hoje na sua página 25 (alusiva ao tema) é bem elucidativa. Estará ali um líder capaz de motivar os quadros? Não sei. E deixem-me dizer que, apesar de considerar que Paulo Azevedo ascendeu à liderança da administração num momento errado (acabado de sair de uma derrota), eu não sou daqueles que alinham na permanente comparação entre pai e filho. Por experiência própria, sei bem o quão injustas essas comparações podem ser. E do que conheço, sei que o novo presidente executivo do grupo Sonae é um homem competente. Infelizmente, a sua postura não é a mais inspiradora.
Segundo, talvez relacionado com a primeira, as saídas de Álvaro Portela e Nuno Jordão. Dois veteranos na Sonae, dois homens de guerra e responsáveis por duas das áreas mais lucrativas da Sonae nos últimos anos. Estou certo que no universo Sonae existem muitas alternativas, mas tantas mudanças em muito pouco tempo trazem, em teoria, mais custos que benefícios. Sobretudo, quando a Sonae é uma máquina que reconhecidamente funciona bem. Por isso, como "em equipa que ganha não se mexe", estou convencido que estas alterações demorarão tempo a ser absorvidas.
Terceiro, provavelmente relacionado com as duas anteriores, a aparente mudança estratégica que Paulo Azevedo anunciou ontem, nomeadamente a possibilidade da Sonae adquirir posições accionistas noutras empresas sem adquirir o controlo da gestão. As tais participações de 10% com vista à diversificação do negócio. Estou em crer que esta ideia se revelará um erro, porventura, um fracasso. Aliás, pergunto: não foi esta filosofia que, em meados dos anos 90, conduziu à necessidade de reestruturar a empresa? Pelo menos, foi essa a minha interpretação quando li o livro "Homem Sonae" de Belmiro, onde eu percepcionei a reestruturação de então como crucial e sem a qual o sucesso presente não teria sido possível. Pois bem, aparentemente, Paulo Azevedo prepara-se para reeditar o erro. Oxalá, lhe corra bem. Mas, confesso, não vejo o alcance estratégico nem o aporte financeiro que a ideia possa ter.
Para bem da Sonae, uma empresa que me habituei a admirar e onde tenho vários amigos a trabalhar, espero sinceramente não ter razão.
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