23 março 2009

instituições da verdade


As seitas a que me refiro neste post são, obviamente, os partidos políticos. Em Portugal, a verdade está nos partidos políticos e não há verdade fora dos partidos políticos. Os partidos políticos são os representantes da verdade, e exaurem o espaço da verdade.

A primeira questão que me proponho tratar neste post é a de saber se é possível a verdade afirmar-se fora dos partidos políticos. É preciso não esquecer que é nos partidos políticos que os portugueses validam as suas verdades privadas tornando-as verdades públicas. Os partidos são, por isso, instituições da verdade, onde cada português revê e suporta as verdades em que acredita.

Imagine-se agora um homem independente que julga ter chegado à verdade pelos seus próprios meios e que decide comunicar a sua verdade em público. Como vai ser recebido? Mal. Ninguém o vai tomar a sério. A sua opinião vai ser rejeitada e escarnecida, porque a sua opinião não está validada por nenhum partido político ou por alguma outra seita . Aliás o povo vai rejeitar a opinião deste homem perguntando em primeiro lugar: "Mas quem é que acredita nele?". De facto, não tendo atrás de si um partido ou uma seita, não se consegue descortinar em público alguém que acredite nele. Excepto ele próprio, naturalmente.
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Porém, é precisamente pelo processo seguido por este homem, que é um processo privado, e não público, de validação da verdade, que na tradição católica se chega à verdade. Segue-se, então, que a verdade não está nem pode estar nas opiniões de um partido político. Nem mesmo num partido de homens de elite? Não, porque os homens de elite não se juntam em partidos para validar a verdade. Encontram-na sozinhos, de forma privada e independente.
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Os partidos políticos, na sua origem, são uma instituição protestante herdeira das seitas. Na sua versão protestante original, as suas posições representam hipóteses ou teses acerca da verdade que estão à espera de validação no veredicto produzido por um júri independente. Nesta tradição a verdade está no veredicto do júri, não nos partidos.
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Porém, na tradição católica, como em Portugal, os partidos tornam-se instituições da verdade (curiosamente, instituições da verdade onde nenhuma possui a verdade). Nesta tradição, a verdade está nos partidos, não no veredicto do júri. Daqui resulta que cada partido continuará a reclamar a verdade mesmo depois de ter perdido as eleições, e fará tudo para retirar do poder aquele que ganhou as eleições. Todos os meios servem para tirar a mentira do poder. Por isso, neste país, os democratas caracterizam-se por aceitar irrestrictamente o resultado das eleições, quando são eles a ganhar, e por boicotar e desacreditar por todos os meios ao seu alcance o resultado das eleições, quando são eles a perder.

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