23 março 2009

ficavam sem alunos

- Ó menino, decide-se tudo até aos quatro anos de idade!
No Minho, toda a gente sabe isto. É um conhecimento popular, mas também consensual, na psicologia e na medicina, que a experiência dos primeiros anos de vida é fundamental para o desenvolvimento.
Que um estudo da Universidade de Coimbra venha corroborar o óbvio não é surpreendente. O que não deixa de ser um pouco surpreendente é a surpresa dos investigadores e até dos jornalistas, sobre os resultados.
Talvez as Universidades devessem explorar um pouco mais as potencialidades da multidisciplinaridade e incluir psicólogos, médicos, sociólogos e filósofos, em estudos desta natureza, para evitarem a banalidade.
Depois, evitar-se-iam também as conclusões ridículas e não fundamentadas. Dizem os investigadores que tudo depende da educação recebida no pré-escolar e na primária. Chumbo! Erro grosseiro. Senhores Doutores, vamos perguntar a uma minhota o que pensa sobre isso:
- Pré-escolar? Está tudo doido! O que importa é a família e o ambiente que a família propicia às crianças.
Mais uma vez, o senso comum e o conhecimento multidisciplinar derrotam a academia. O que conta não é o ensino pré-escolar, o que conta é a formação que se recebe no seio da família. Diversos estudos têm vindo a confirmar isto mesmo, defendendo-se hoje que, sempre que possível, as crianças devem ficar com as mães nos primeiros anos de vida. O kindergarten e o pré-escolar são segundas alternativas.
De algum modo, os autores intuíram esta realidade quando recomendam estágios em colónias de férias, “onde o caldo social possa expor as crianças menos favorecidas ao contacto com as mais favorecidas”. Claro que se trata de uma recomendação lunática, que só podemos desculpar por distracção. Para quê os campos de férias? Porque não obter o efeito desse caldo social na escola primária?
Por fim, as conclusões dos investigadores sobre o “reforço do ensino pré-primário e o alargamento do ensino obrigatório” não têm qualquer carácter científico e não passam de posições ideológicas. Mesmo que os autores acreditem na pré-primária, a conclusão de alongar os anos de estudo é contraditória com o pressuposto de que tudo se resolve nos primeiros anos de vida.
Vamos à sabedoria minhota. Porque é que estes investigadores de Coimbra recomendam políticas que são contrárias aos resultados dos seus próprios estudos?
- Ó menino, eles não são professores? O que querias que dissessem? Que quem não tem capacidade vá lavrar a terra? Ficavam sem alunos!

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