O Rui neste post procura fazer justiça à minha tese e, em parte, faz-lhe. Mas depois não pode concordar comigo que os portugueses gostem da verdade. Ele afirma até que os portugueses fogem da verdade.
O argumento do Rui é perfeitamente compatível com a minha tese, longe de a contraditar. Porém, ao ler o post do Rui eu concluí que o defeito estava em mim e que, em certos aspectos, eu não me tinha exprimido com clareza suficiente, em parte porque a clareza não existia ainda também no meu espírito. Nem isso é surpreendente para quem, como eu, anda a desbravar caminho à procura da verdade acerca dos portugueses.
O post do Rui foi, portanto, um poderoso incentivo para que certas ideias se tornassem mais claras no meu espírito. São essas ideias que pretendo agora expôr, resumindo a minha tese no ponto de contenção que é levantado pelo Rui.
Consideremos uma questão Q. A minha tese começa por afirmar que para chegar à verdade da questão Q, os portugueses vão procurar saber tudo o que há para saber acerca de Q, coleccionando todas as respostas possíveis acerca da verdade de Q, no país e no estrangeiro. Chegam assim a vários candidatos à verdade de Q - isto é, opiniões sobre Q - e cada um destes candidatos vem acompanhado de um conjunto considerável de factos que se destinam a provar a verdade de cada um dos candidatos, porque é nos factos que está a verdade.
Admitamos, por simplicidade, que são seis os candidatos à verdade de Q, ou opiniões sobre Q, que designarei por A, B, C, D, E e F. É agora que se põe o problema do julgamento, e é agora também que há lugar à distinção entre o homem de elite e o homem do povo, uma distinção que está baseada na capacidade de julgamento do primeiro e na sua completa ausência do segundo.
Começo pelo homem de elite. Ele vai julgar onde está a verdade. E como faz? Primeiro, começa por analisar os factos relacionados com Q, que estão dispersos pelos conjuntos acompanhando cada um dos candidatos à verdade A, B, ..., F, escolhendo os factos essenciais. Em seguida, utiliza a razão abstracta para, por dedução lógica, chegar à verdade. Digamos que a verdade é C.
Passo agora a analisar como procede o homem do povo. Ele tem os seis candidatos à verdade diante de si A, B ..., F, cada um deles acompanhado de um conjunto de factos alegadamente comprovando a verdade de cada um dos candidatos. O problema é que ele agora não é capaz de sair daqui por si próprio - algo que o homem de elite é capaz, como descrevi acima. Falta-lhe, em primeiro lugar o julgamento (que exige capacidade de abstracção) para, dentre os seis conjuntos de factos que tem diante si, seleccionar os factos essenciais. Falta-lhe em seguida a faculdade da razão abstracta para, por dedução lógica, chegar ao princípio onde geralmente se encontra a verdade. Ele permanece diante de um grande número de factos e não consegue sair dali pelos seus próprios meios.
E então o que faz ele, como é que ele vai sair desta indecisão radical acerca de onde é que está a verdade? Vai procurá-la nos outros, na família, no grupo de amigos, nos colegas do emprego, na paróquia, no partido político, na sociedade em geral - enfim naquilo que anteriormente e de uma forma genérica eu designei por seita. Se a seita disser que a verdade está em F (erro, porque a verdade está em C), ele também diz que a verdade está em F. Como ele é incapaz de julgar, ele apoia-se nos outros para substituir a sua falta de julgamento radical.
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É claro que outro homem do povo, apoiando-se numa seita diferente, afirmará que a verdade está em A (erro, porque a verdade está em C), precisamente porque a sua seita também diz que a verdade está em A. Daqui resulta que a condição normal do homem do povo típico não é a de fugir à verdade. É a de estar em erro. Fugir à verdade equivaleria a imputar-lhe má-fé que seria uma imputação totalmente arbitrária.
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O homem do povo português está tipicamente em erro e as situações que o Rui configura apenas ilustram isso. Consideremos então o estudante que utiliza certas habilidades para tirar um curso, e ao lado dele um outro, em tudo igual ao primeiro, excepto num aspecto. O segundo possui capacidade de julgamento (provavelmente virá a ser um homem de elite) e, por isso, sabe que não basta ter um diploma para prosperar na vida, é necessário ter conhecimentos e esses só se adquirem pelo estudo. Daí que se aplique a estudar para amanhã poder progredir no emprego e ter uma vida melhor.
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Passados vinte anos, quem é que foi mais longe na vida, ceteris paribus? O segundo, óbviamente. Mas isso só prova que o primeiro estava em erro - julgava (e julgou mal) que bastava ter um diploma e, chegado aos exames, era só copiar. Estar em erro, resultante da sua falta de julgamento, e não fuga à verdade, é o que caracteriza o português típico do povo.
O argumento do Rui é perfeitamente compatível com a minha tese, longe de a contraditar. Porém, ao ler o post do Rui eu concluí que o defeito estava em mim e que, em certos aspectos, eu não me tinha exprimido com clareza suficiente, em parte porque a clareza não existia ainda também no meu espírito. Nem isso é surpreendente para quem, como eu, anda a desbravar caminho à procura da verdade acerca dos portugueses.
O post do Rui foi, portanto, um poderoso incentivo para que certas ideias se tornassem mais claras no meu espírito. São essas ideias que pretendo agora expôr, resumindo a minha tese no ponto de contenção que é levantado pelo Rui.
Consideremos uma questão Q. A minha tese começa por afirmar que para chegar à verdade da questão Q, os portugueses vão procurar saber tudo o que há para saber acerca de Q, coleccionando todas as respostas possíveis acerca da verdade de Q, no país e no estrangeiro. Chegam assim a vários candidatos à verdade de Q - isto é, opiniões sobre Q - e cada um destes candidatos vem acompanhado de um conjunto considerável de factos que se destinam a provar a verdade de cada um dos candidatos, porque é nos factos que está a verdade.
Admitamos, por simplicidade, que são seis os candidatos à verdade de Q, ou opiniões sobre Q, que designarei por A, B, C, D, E e F. É agora que se põe o problema do julgamento, e é agora também que há lugar à distinção entre o homem de elite e o homem do povo, uma distinção que está baseada na capacidade de julgamento do primeiro e na sua completa ausência do segundo.
Começo pelo homem de elite. Ele vai julgar onde está a verdade. E como faz? Primeiro, começa por analisar os factos relacionados com Q, que estão dispersos pelos conjuntos acompanhando cada um dos candidatos à verdade A, B, ..., F, escolhendo os factos essenciais. Em seguida, utiliza a razão abstracta para, por dedução lógica, chegar à verdade. Digamos que a verdade é C.
Passo agora a analisar como procede o homem do povo. Ele tem os seis candidatos à verdade diante de si A, B ..., F, cada um deles acompanhado de um conjunto de factos alegadamente comprovando a verdade de cada um dos candidatos. O problema é que ele agora não é capaz de sair daqui por si próprio - algo que o homem de elite é capaz, como descrevi acima. Falta-lhe, em primeiro lugar o julgamento (que exige capacidade de abstracção) para, dentre os seis conjuntos de factos que tem diante si, seleccionar os factos essenciais. Falta-lhe em seguida a faculdade da razão abstracta para, por dedução lógica, chegar ao princípio onde geralmente se encontra a verdade. Ele permanece diante de um grande número de factos e não consegue sair dali pelos seus próprios meios.
E então o que faz ele, como é que ele vai sair desta indecisão radical acerca de onde é que está a verdade? Vai procurá-la nos outros, na família, no grupo de amigos, nos colegas do emprego, na paróquia, no partido político, na sociedade em geral - enfim naquilo que anteriormente e de uma forma genérica eu designei por seita. Se a seita disser que a verdade está em F (erro, porque a verdade está em C), ele também diz que a verdade está em F. Como ele é incapaz de julgar, ele apoia-se nos outros para substituir a sua falta de julgamento radical.
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É claro que outro homem do povo, apoiando-se numa seita diferente, afirmará que a verdade está em A (erro, porque a verdade está em C), precisamente porque a sua seita também diz que a verdade está em A. Daqui resulta que a condição normal do homem do povo típico não é a de fugir à verdade. É a de estar em erro. Fugir à verdade equivaleria a imputar-lhe má-fé que seria uma imputação totalmente arbitrária.
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O homem do povo português está tipicamente em erro e as situações que o Rui configura apenas ilustram isso. Consideremos então o estudante que utiliza certas habilidades para tirar um curso, e ao lado dele um outro, em tudo igual ao primeiro, excepto num aspecto. O segundo possui capacidade de julgamento (provavelmente virá a ser um homem de elite) e, por isso, sabe que não basta ter um diploma para prosperar na vida, é necessário ter conhecimentos e esses só se adquirem pelo estudo. Daí que se aplique a estudar para amanhã poder progredir no emprego e ter uma vida melhor.
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Passados vinte anos, quem é que foi mais longe na vida, ceteris paribus? O segundo, óbviamente. Mas isso só prova que o primeiro estava em erro - julgava (e julgou mal) que bastava ter um diploma e, chegado aos exames, era só copiar. Estar em erro, resultante da sua falta de julgamento, e não fuga à verdade, é o que caracteriza o português típico do povo.
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