26 fevereiro 2009

peccata mundi

Os juristas nunca se deveriam pronunciar sobre temas económicos porque metem tanta água que acabam por fazer uma triste figura. Em última análise, acabamos todos a pensar que se sabem tão pouco de economia pouco saberão de Leis.
Vem isto a propósito da opinião de Vital Moreira sobre a necessidade de baixar os impostos, em tempo de crise:
Propor cortes gerais nos impostos e nas contribuições da segurança social quando, em consequência da recessão económica, se assiste a uma verdadeira hemorragia orçamental (menos receita e mais despesa), bem como das finanças da segurança social (menos contribuições e mais despesas sociais), deveria parecer uma política contranatura --, pelos vistos excepto para a direcção e os economistas do PSD.
Um risco que tem de ser evitado no combate à crise é o de "morrer da cura", em consequência de maus remédios ou de excesso de medicamentação, saindo da recessão com as finanças públicas tão degradadas (em termos de défice e de dívida pública) que constituíssem um pesado fardo para a retoma.

Julgo que não vale a pena contestar estas afirmações porque são totalmente contrárias às medidas que têm vindo a ser tomadas em quase todos os países da OCDE. Gostaria apenas de fazer uma análise médica do respectivo conteúdo
Para Vital, o Estado assume uma dimensão antropomórfica, quase como uma divindade plebeia. Um ente ou ser que tem sentimentos, emoções e sangue que lhe corre nas veias. O Estado está a sofrer uma hemorragia e pode morrer da cura. Não podemos consentir que o Estado fique deficiente, arrastando um pesado fardo.
Esta linguagem histriónica recorda-me alguns sermões paroquiais, quando o padre afirma que “nossa Senhora está sofrer pelos nossos pecados” ou que “temos de rezar pelo sofrimento do mundo”.
A verdade, se é que esta interessa, no meio de uma linguagem tão própria da populaça, é que os impostos estão a provocar uma “hemorragia no bolso dos contribuintes” e que estes “não conseguem arrastar esse fardo”. Fosque-se, são os contribuintes que têm sangue a correr nas veias, não é o Estado.

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