26 fevereiro 2009

Desavergonhados


Ainda a propósito do negócio entre a CGD e o empresário Manuel Fino, ruinoso para os contribuintes portugueses, aproveitei este início de manhã para passar os olhos pelos editoriais dos jornais nacionais que habitualmente leio. Pois bem, o Jornal de Negócios não fala do assunto. No Diário Económico, o director António Costa escreve a certa altura que "a administração de Faria de Oliveira fez o negócio que tinha de fazer", posição que também ontem parece ter sido defendida por Paula Teixeira da Cruz. Por fim, o Público, através de José Manuel Fernandes, é o único a colocar o dedo na ferida questionando os seus leitores "Para que serve o banco público? Para os amigos?".

Com franqueza, já nem vou discutir as questões técnicas. Já o fiz aqui, sendo que os números são irrefutáveis e a conclusão é apenas uma: o preço acordado foi absolutamente descabido. Em especial, quando se sabe que Manuel Fino tinha muitas mais acções da Cimpor (e, já agora, da Soares da Costa) para entregar à CGD e assim refinanciar o seu empréstimo. Este é um ponto que ninguém menciona, nem mesmo o Público, mas que faz toda a diferença, tornando a negociata ainda mais escandalosa. De resto, este é daqueles assuntos que justifica uma condenação unânime, porque o dinheiro a mais que a CGD pagou por essas acções da Cimpor representa um almoço grátis num restaurante de luxo da baixa lisboeta - por exemplo, no "Solar dos Presuntos" onde os nossos políticos gostam de se juntar para longas e faustas refeições - que cada contribuinte ofereceu ao senhor Fino sem o conhecer de lado nenhum.

Este episódio reflecte o caos que se instalou na gestão da nossa democracia indirecta. Ao contrário de outros países, em que este mesmo regime funciona de forma aceitável, em Portugal tal parece não ser o caso. E, confesso, não sei se a solução é mudar as pessoas. Julgo que se trata de uma questão de mentalidade política que corrói a moral daqueles que entram nos círculos do poder. Por exemplo, no caso da CGD eu conheço alguns dos administradores - tanto cá como em Madrid - e, num caso até, privei com elas. São pessoas sérias e competentes. Por isso, o problema só pode ser o enredo e a pressão política para fazer este tipo de negócios. Daí a minha conclusão de que, no estado actual das coisas, não é o partido A, B ou C que está em causa. É toda a estrutura político-partidária que tem de ser repensada. Esta não serve. Esta é desavergonhada. Esta goza com os portugueses anónimos.

Sem comentários: