10 fevereiro 2009

padronização

Retomando as questões sobre a direita suscitadas pelo José, principalmente o seu ponto de vista de que a direita europeia está dominada pela social-democracia, eu atrever-me-ia a concordar com ele, acrescentando embora dois ou três pontos que me parecem pertinentes.

O primeiro é que os regimes democráticos europeus nascidos no pós-2ª Guerra Mundial, estabilizaram um sistema partidário e ideológico que não deixa grandes parâmetros de oscilação entre a esquerda e a direita. Numa palavra, os partidos de governo são, quase todos sem excepção, defensores de concepções estatistas da sociedade, na medida em que privilegiam o estado e o governo e a “dinâmica” de desenvolvimento que eles possam gerar, à iniciativa privada e à sociedade civil.

O segundo ponto é o de que as diferenças primordiais entre as políticas de esquerda e as políticas de direita, vistas a partir do exercício do governo, têm a ver com opções sectoriais, muito mais do que com a redução ou ampliação das funções de soberania e a opção por uma drástica redução da despesa pública. A esquerda orienta-se mais no sentido das políticas ditas de solidariedade social (segurança social, educação, saúde, redistribuição fiscal, ambiente, etc.), enquanto que a direita vai mais para as políticas que correspondem às funções clássicas do estado (segurança, política externa, justiça, administração interna, mas também a saúde e a própria educação).

O terceiro ponto é que esses parâmetros de governação foram ainda mais reduzidos, a partir da década de 90, para os estados que integram a União Europeia. O célebre PEC (infelizmente cada vez mais esquecido), a moeda única e a união económica e monetária que a pressupõe, as políticas comuns, etc., diminuíram o espaço da soberania nacional e, consequentemente, reduziram o âmbito da especulação ideológica. Ser, hoje, um partido democrático de um país europeu que pertença à União implica, entre outros aspectos, defender o mercado-livre, a concorrência aberta, a inexistência de fronteiras e de entraves comerciais inter pares, a moeda única, a democracia representativa, etc. Isto, podendo parecer que não, diminui, e muito, o espaço para a especulação ideológica.

O quarto ponto é o de que esta padronização da política é um custo inerente ao mundo em que vivemos, que conquistou alguns valores importantes, e praticamente os universalizou: a paz; algum desenvolvimento sustentado; a diminuição substantiva da miséria; o acesso generalizado a bens essenciais de consumo. Em contrapartida, reduziu-nos a liberdade de escolha de modelos alternativos e cerceou-nos a imaginação. Até quando trocaremos umas pelas outras, é já uma outra questão.

Sem comentários: