12 fevereiro 2009

não és dos nossos


Eu apreciei muito um post recente que o Rui a. escreveu a meu respeito (aqui). Desde que comecei a escrever no Blasfémias, a seu convite e do LR, em Outubro de 2006, que ele andava intrigado comigo: teria eu deixado de perfilhar as ideias do liberalismo clássico pelas quais me tinha tornado conhecido, e pelas quais ele na altura insistira tanto comigo para que voltasse a escrever em público?
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Alguns concluiram rapidamente que sim e trataram de me julgar e excluir, revelando uma das mais permanentes e básicas características da cultura portuguesa, e também a mais católica - a exclusão pelas ideias: "Se não pensas como nós, então não és dos nossos". O Rui a., que é um cavalheiro e um homem inteligente, não se precipitou - prezou mais a pessoa que as ideias e pacientemente foi-me observando, imagino eu com uma pergunta no espírito: "Mas para onde é que ele vai?".
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Se me tivesse perguntado há um ano, nem eu estaria certo de lhe saber responder. Hoje sei, mas não necessitei dizer-lhe, porque ele também já lá chegou. Andei por aí a estudar a cultura portuguesa, com o fito de responder à seguinte questão: "Pode o liberalismo clássico servir a Portugal?". Ele conhece agora a minha resposta: "Não. Três vezes não". E a esta conclusão eu cheguei, não apenas por argumento intelectual abstracto, mas também por observação empírica. Cada vez que o liberalismo foi tentado em Portugal foi uma desgraça. Quanto à minha admiração pelas ideias liberais clássicas, ela permanece a mesma de sempre.

Ao mesmo tempo que escrevia o post referido acima, o Rui a. apresentava a tese de que a direita portuguesa não faz mais que imitar a esquerda. É a consequência de importar ideias feitas do exterior e tentar impô-las em Portugal, sem cuidar de saber do material humano com que está a lidar, e presumindo que o material humano é igual em toda a parte. O postulado principal do pensamento da esquerda é precisamente o da igualdade.

Eu penso que o Rui está certo na sua tese e, eu próprio, com a minha tendência para a radicalização, talvez a tivesse formulado de forma mais enfática: "A direita portuguesa é de esquerda". No seguimento desta tese, o Rui envolveu-se numa pequena polémica com o blogue 31 da Armada. Eu gostaria de acrescentar, porém, que, na blogosfera portuguesa, o mais representativo blogue de direita que é de esquerda não é o 31 da Armada. É o Blasfémias.

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