25 fevereiro 2009

Bravo! Bravo!


O polémico negócio que a CGD fez com o empresário Manuel Fino foi hoje alvo de discussão no debate quinzenal da Assembleia da República. Disse o senhor ministro das Finanças que com esta operação a CGD evitou um prejuízo de 80 milhões de euros nas contas do ano passado. Teixeira dos Santos acrescentou ainda que "foi uma decisão de gestão" do banco público. Ao mesmo tempo, o Primeiro Ministro afirmava que "o ministro das Finanças pediu informações sobre isso e tem um memorando". E, concluiu, exclamando peremptoriamente: "A Caixa está em condições de prestar esse esclarecimento aos portugueses"! Ainda bem, porque vai ser necessário.

Uma primeira consideração acerca das contas do ministro das Finanças: Teixeira dos Santos acertou mais ou menos no número, mas enganou-se no sinal. A CGD não evitou um prejuízo. Na realidade, a CGD incorreu num prejuízo de mais de 90 milhões de euros. As contas são simples. Desde o início do ano, a cotação média de fecho da Cimpor foi de 3,66 euros por acção. O negócio envolveu uma transacção global de 306 milhões de euros, 64 milhões de acções da Cimpor e foi concretizado a 4,75 euros por acção - um prémio de 30%! Abandonando a ficção e regressando à realidade, observa-se que, no mesmo período, o desvio padrão, ou seja, as oscilações em torno da média, foi de 24 cêntimos. Assim, estatisticamente falando, a probabilidade de que, um dia depois do negócio se concretizar, o título se valorizasse e encerrasse a sessão acima dos 4,75 era apenas de 1%. Ou seja, a probabilidade de que o Estado - perdão, a CGD - fizesse um negócio melhor àquele que fez era de 99%! Sem dúvida, um magnífico negócio...para Manuel Fino.

Como se não bastasse, o senhor Fino possuía em carteira mais acções da Cimpor para além daquelas que vendeu ao Estado - perdão, à CGD. Na verdade, o senhor Fino manteve um lote mais ou menos igual ao que vendeu 30% acima do preço de mercado, permitindo-lhe ainda manter uma posição significativa na Cimpor, não de 20%, mas agora apenas de 10%. Ou seja, o Estado - perdão, a CGD - fez um negócio ruinoso. Pagou 90 milhões a mais do que devia e, provavelmente, deixou de ganhar outro tanto em acções sobre as quais tinha todo o direito de se apropriar. É que se o senhor Fino estava insolvente, como parecia ser o caso, a CGD tinha todo o direito de exigir todas as acções que pudesse, ou outro património qualquer, até ao limite do empréstimo concedido.

Enfim, o ministro das Finanças ter-se-á equivocado quando utilizou a expressão "evitou prejuízo". Devia ter falado em custo de oportunidade, porque a perda nunca chegou a ser amortizada pela CGD. Pelo contrário, o dinheiro a mais que pagou por acções que não valiam aquele preço, esse sim, vai sair directamente dos cofres do Estado - perdão, da CGD - e que, sendo um custo de oportunidade, a verdade é que, dadas as circunstâncias, mais parece um prejuízo! Auto infligido!

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