01 fevereiro 2009

às vezes irreparável



Pode o povo português ser um vil caluniador, de acordo com a hipótese que levantei no post anterior? Pode. Trata-se, infelizmente, de uma característica cultural do povo português e, para retomar a comparação que tenho vindo a estabelecer, uma das características que o distinguem do povo inglês - os ingleses não são caluniadores. Na minha opinião, esta é a diferença principal que, a prazo, sempre tornou a democracia impossível em Portugal e a tornou sempre possível em Inglaterra.

Uma das principais críticas ao regime do Estado Novo, senão mesmo a principal, era a falta de liberdade de expressão do pensamento, e a censura nas suas várias formas. Sempre que Salazar concedia uma entrevista - embora fossem poucas as ocasiões em que o fazia - um dos temas obrigatórios levantados pelo entrevistador era o da censura. Por uma daquelas manobras de fuga à realidade em que os portugueses são especialistas, a ideia que ficou foi a de que a censura visava exclusivamente impedir a penetração das ideias comunistas no país e, mais remotamente, alguns maus costumes (pornografia, etc.).

Porém, essa ideia reflecte apenas uma parte da realidade, omitindo a outra. Nas múltiplas ocasiões em que teve de explicar a necessidade da censura em Portugal, Salazar invocou sempre duas razões, e não apenas uma. Como aqui, na sua célebre entrevista a António Ferro:

"Censura (...) que tem como objectivos principais impedir a invasão das ideias marxistas, a propagação de mentiras e o malefício da calúnia, às vezes irreparável".

(António Ferro, Entrevistas a Salazar, op. cit., p. 161)

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