20 janeiro 2009

toda a vida


A característica que neste post atribuí aos ingleses - a sua propensão para especular sobre o futuro - e neguei aos portugueses, é parte daquele conjunto de ideias e atitudes culturais inglesas que se exprimiram através da revolução francesa, e que encontraram em Portugal e, sobretudo, em Espanha, a sua maior oposição.

É também parte da diferença entre aquilo que tenho chamado cultura predominantemente protestante e cultura predominantemente católica, a primeira representada pelos povos do norte da Europa e a segunda sobretudo pelos do sul, com a Península Ibérica à frente.

Especular sobre o futuro é típico duma cultura que acredita que o futuro pertence ao homem, que acredita na mudança e no progresso - e os ingleses certamente accreditam nisso tudo. Pelo contrário, numa cultura conservadora, como a da Península Ibérica, especular sobre o futuro é uma perda de tempo (o futuro é suposto ser igual ao passado), uma heresia (o futuro pertence a Deus), senão mesmo uma imoralidade ou um crime.

A superioridade da cultura britânica (ou protestante) em matéria económica e científica sobre a cultura ibérica (ou católica) não deve surpreender, e reside na sua maior propensão para a especulação. O desenvolvimento da ciência é, em primeiro lugar, especulação, e outra coisa não é o desenvolvimento económico. Quem não tem capacidade para especular sobre o futuro vive ao sabor das circunstâncias, em lugar de comandar ou moldar as circunstâncias, e, se nasceu pobre, tem grandes probabilidades de ficar pobre toda a vida.

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