22 janeiro 2009

a apanhar bonés


A minha convicção é que os governantes portugueses estão agora desorientados no meio da crise, não a compreendem, e não sabem o que fazer. Os acontecimentos, todos desagradáveis, caem-lhes em cima uns atrás dos outros, sem eles saberem como e de onde vêm. A semana passada foi o episódio da ameaça de downgrading a Portugal pela Standard & Poor, que levou o governo a enviar o ministro das Finanças a Londres, com os resultados que se conhecem. Hoje, a propósito da Cimeira Ibérica, o ministro dos Negócios Estrangeiros declara ao Jornal de Negócios: "Receio que Espanha se torne proteccionista".

Receia? Pode ter a certeza.

O problema central da Espanha é o seu défice de transacções correntes que, em cada dia, agrava a dívida externa. A maneira mais eficaz de lidar com o problema é restringir as importações e encorajar as exportações - isto é, tornar-se proteccionista.

Este é, também, o problema de Portugal - na realidade, em Portugal, em termos relativos, o problema é ainda maior (o défice de transacções correntes é 11.8% do PIB contra 6% em Espanha). Daí que, ao indicar estas medidas de combate à crise eu tenha colocado no topo a restricção às importações e o encorajamento das exportações - isto é, o proteccionismo -, para além da saída do euro, que teria o mesmo efeito.

Em lugar de estar a preparar o primeiro pacote de medidas proteccionistas, o governo português, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, está ainda admirado e a reflectir sobre as razões que poderão levar a Espanha a tornar-se proteccionista.
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Esta nossa incapacidade para especular sobre o futuro, acaba sempre da mesma maneira - só agiremos quando o mundo nos estiver a caír em cima. Enquanto isso não acontece, andamos, literalmente, a apanhar bonés.

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