Tendo estabelecido no post anterior que na tradição protestante o homem do povo mantém uma relação directa e íntima com a verdade enquanto que na tradição católica essa relação é indirecta e distante, segue-se que nesta tradição o homem comum não quer saber da verdade para nada, porque esse não é o seu negócio. Esse é o negócio do escol, dos especialistas (do clero ou, numa versão laica e moderna, dos governantes ou das autoridades). Pelo contrário, na tradição protestante, o homem comum quer saber a verdade porque a verdade é seu negócio pessoal e íntimo.
Na tradição portestante, o homem comum é suposto procurar a verdade, e esta acaba sendo uma convicção interior, íntima. Na tradição católica, o homem comum não é suposto procurar coisa nenhuma do género. Isso é tarefa para o escol, e a verdade é para lhe ser contada pelo escol. A verdade é algo que lhe disseram.
Naquela sua procura interior e directa pela verdade, o homem comum da tradição protestante sabe os riscos que corre e está habituado a lidar com eles - os riscos de encontrar verdades desagradáveis. O homem comum da tradição católica, pelo contrário, nunca tendo procurado a verdade, não conhece os riscos do empreendimento e muito menos está preparado para lidar com as consequências - as verdades desagráveis. Por isso, ele só quer ouvir do escol verdades que lhe sejam agradáveis. Quanto às verdades desagradáveis, que o amofinam ou o tornam infeliz, o escol (representado pelo médico, no exemplo do Joaquim) que fique lá com elas, que a ele - homem comum - não lhe interessam para nada. Na realidade, é até uma ofensa que alguém ouse dizer-lhas "Ora, ora, estava eu aqui tão bem e vem este gajo agora para aqui chatear-me com estas coisas!...". Esta é a reacção típica do homem comum de tradição católica às verdades desagradáveis. Ele sente-se ofendido com elas.
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